Gol de placa
Foi difícil formar a delegação do América de Natal que jogaria em Belo Horizonte contra o Atlético Mineiro, uma de suas últimas partidas do Campeonato Brasileiro de 1977.
Campeonato que teve o seu campeão conhecido apenas no dia 5 de março do ano seguinte.O título foi conquistado pelo São Paulo, no Mineirão, numa célebre decisão por pênaltis, onde o catimbeiro goleiro paulista Valdir Peres se consagrou ao desequilibrar o controle emocional dos cobradores adversários, induzindo-os ao erro diante de uma platéia de mais de 100 mil torcedores do Galo das Alterosas.
Torcedores levados ao desespero pela perda do título – e que levaram um tempo enorme para sair do estádio, com as bandeiras enroladas no próprio corpo, enxugando com elas as lágrimas da decepção.
O Atlético, invicto, terminou a competição 10 pontos à frente do campeão, numa época em que a vitória valia 2 pontos e o regulamento previa uma final entre os dois melhores do campeonato.
No DM
No departamento médico americano, não cabia mais ninguém e os goleiros Cícero e Batista simplesmente sumiram. Cícero alegou uma providencial contusão e se mandou para Fortaleza. Batista, como sempre, estava sendo procurado na night. Eu era o terceiro goleiro na ordem de preferência do treinador Laerte Dória, e o jovem Petrarca, uma promessa saída dos juvenis, a outra opção.
A boa vontade de Laerte comigo era tanta, que não me punha sequer para treinar os coletivos, simplesmente me esquecia às margens do gramado. Não o culpava, afinal fora o presidente Jussiê quem me contratara.
Já na capital mineira, era visível a falta de vontade de os jogadores atuarem. O medo de enfrentar o Atlético de Reinaldo, artilheiro maior da competição e em busca de um recorde, e encarar o Mineirão abarrotado de uma torcida só, se estampavam no nervosismo velado das brincadeiras dos jogadores:
“Valdir, o Rei quer fazer pelo menos uns quatro gols”.
No CT do Cruzeiro
Na véspera da partida, treinamos no CT do Cruzeiro, eterno rival do Galo, e assistimos a um vídeo do Atlético massacrando um oponente. Ouvimos as análises do nosso técnico e algumas dicas do treinador do clube anfitrião, Aimoré Moreira, e nos preparamos para... o pior.
Conversei também com o goleiro Raul Plassmann, da Raposa, que me deu um confortante tapinha nas costas, dizendo:
“Valdir: Levar cinco do Atlético de Reinaldo e companhia não é nada. Duro é tomar quatro do Fast de Manaus, em pleno Mineirão”.
Raul se referia ao último jogo da sua equipe – que vencera, mas tomara um balaio de gols dos surpreendentes amazonenses: 5 a 4.
No vestiário do Mineirão tive um princípio de estiramento na coxa, enquanto fazia o aquecimento, mas não falei nada para o doutor Maeterlinck, receoso de que a contusão, naquele momento, seria interpretada como uma simulação, e entrei em campo assim mesmo.
Goleada
O resultado já esperado foi de 6 a 0 para o Galo, magro naquelas circunstancias – porque tive que evitar outros tantos gols.
O grito de guerra (Gaaalooo! Gaaalooo!) explodia nas arquibancadas, e já seria suficiente para nos derrotar.
Ficamos acuados feito pugilista no canto do ringue: tomando porradas. Não passamos do meio de campo e não demos um chute ao gol defendido pelo goleiro João Leite.
A placa
O terceiro gol de Reinaldo me deixou de joelhos, como reverenciando, e mereceu uma placa no hall da fama do estádio Magalhães Pinto, pela sua beleza inigualável. Reinaldo alcançou a marca de 28 gols naquele campeonato, e só foi superado pelo Edmundo, do Vasco, no campeonato brasileiro de 1997.
O gol
10 comentários:
Oi, Valdir;
São os riscos de um goleiro, levar gols quando tudo faz para que eles não aconteçam...
E como conheci o Valdir e quantas vezes o vi treinar em São Januário, sei quanto você era profissional.
Por isso não é vergonhoso levar seis quando do outro lado está uma máquina de fazer gols.
Obrigado Valdir pelas belas histórias que conosco divide.
Um abraço, caro amigo,
Osvaldo
Claro que eu lembro deste gol, mas não sabia que era você o goleiro. Não deixa de ser uma forma de ficar na história.
Meu grande ídolo Andrada, coitado, ficou mais conhecido por um gol de pênalti que levou que pelas maravilhosas defesas que fez.
No filme do Pelé tem centenas de gols e uma defesa. Do Andrada.
Eu era criança, tinha 9 anos, e tinha a esperança de que o meu América pudesse de alguma forma parar o Galo. Depois fiquei só torcendo para o jogo acabar logo. Reinaldo, como sempre, estava demais.
Valeu a força Osvaldo.
Alexandre: não custa nada repetir:de um modo geral o jogador entra para a história por causa de algo inusitado. Andrada, Barbosa, Manga, Valdir....gol mil, gol da Copa de 50, gol de tiro de meta, gol contra...é por aí..
Adriano, se você lembra imagina o goleiro.
Abraços
Valdir
Chiquinho meu irmão.
Bela crônica, Fatos mencionados de goleiros sensacionais, as observações quanto a tomar gol desses ou daquele momento, é maravilhoso e faz parte do cotidiano dos goleiros maravilhosos como você e tantos outros. O Reinaldo, jogador magnífico, talentoso, foi superado pelo Edmundo, mas sua média de gol é maior que a do animal.
Parabéns
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em blumenau.
Valdir:
Goleiro orgulhoso é assim. Até quando leva um gol de placa. De Reinaldo!
Palmas para você e o Rei.
Do também torcedor orgulhoso. De vocês!
Um abraço do
Lucídio
Amigo Valdir
Isso não é nada. Com o tempo, passa ... ahahahahahahah
Mande as escalações do time do América e do Alecrim. Gosto de rever os amigos, mas as fotos chegam muito
pequenas, não dá para identificar. Numa, do America, tem um jogador, em pé, parecendo o Mareco, que foi do
America, do Rio.
Grande abraço.
Iata Anderson
Valdir, perguntar não ofende: O nosso bravo Joel "poliglota" Santana estava nesse 6X0? Segundo me lembro ele saiu do Vasco para o América de Natal, confere?
Alexandre,
Estavamos juntos no América, Joel e eu. Vou olhar a ficha e depois te dou retorno. Tô em viagem e o arquivo ficou.
Valdir,
me permita usar seu espaço para tirar uma dúvida com os vascaínos. Estou escrevendo uma crônica sobre o Dirceuzinho e muitos detalhes existem só na memória de quem viveu. No trecho em que falo de sua passagem pelo Fluminense, comento a final do carioca de 1976 quando o tricolor venceu num jogo extra o Vasco por 1X0, gol do Doval aos 14m do segundo tempo da prorrogação.
Na minha lembrança, no jogo anterior contra o mesmo Fluminense, num empate de 2X2 (Roberto e Toninho do meio de campo), o nosso bravo Miguel de Almeida foi expulso no fim do jogo por evitar, com uma falta até violenta, uma arrancada do Dinamite em direção ao gol.
Ocorre que em todas as escalações que encontro na web, o Miguel está no jogo final.
Será que alguém lembra se ele foi expulso mesmo (será que eu inventei essa expulsão?) ou ele foi absolvido de alguma forma. Lembro que do último jogo do quadrangular até o jogo extra, se passaram uns 30 dias.
Se alguém quiser conferir o meu blog: http://www.aleporto.com.br/esportes/
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