sábado, 29 de agosto de 2009

O Chevette 78
Dezembro.
Minhas férias em Brusque incluíram a aquisição de um Chevette zero, branquelo, ano 77 modelo 78, placa BK 1615, comprado numa concessionária de Itajaí.
Fazia parte do meu plano de vôo para os últimos dias na terrinha, antes da reapresentação ao América, em Natal/RN, curtir as praias do litoral catarinense e o planejamento do longo retorno ao nordeste, com passagem pelo Rio.
Na cidade maravilhosa eu mantinha um apartamento no bairro da Tijuca e uma lista imensa de amigos.
A distância a ser percorrida até Natal, era algo em torno de uns 3.700 quilômetros.
Malas feitas, despedidas e lá fui eu cumprindo a primeira etapa.
Escala no Rio.
Fiquei três dias na gandaia. Dormia no apartamento do Joel Santana, no Leblon, quando dava tempo.
Joel, que também jogava no América, topou o desafio de retornar de carro.
Embarcamos no meu possante numa madrugada de segunda-feira.
Revezamos, no volante, o percurso até Lagoinhas no interior da Bahia.
Foi cansativo, porém tranquilo. Tínhamos planejado bem as duas paradas obrigatórias, uma na Bahia e outra em Aracaju. Dois pernoites e estaríamos em Natal na quarta-feira à noite.
Entramos em Alagoinhas por volta das 20 horas e buscamos por um hotel para esticar os ossos. Depois de uma maratona que incluiu os melhores hotéis e os piores, ficamos desapontados ao descobrir que alta temporada tinha entupido de turistas todos os hotéis e pousadas da cidade.
Não tínhamos pensado nesta probabilidade.
Conformados, estacionamos o carro dentro do estacionamento de um hotel, onde pedimos permissão para usar o lavabo. Fizemos uma higiene precária, reclinamos o assento do carro e dormimos desconfortavelmente até as 6 da manhã.
Seguimos viagem inconformados com a nossa falta de planejamento.
Fazer oquê?
Passamos a sonhar com um bom banho, uma cama confortável em Maceió.
Joel me dizia:
-Não quero nem saber quanto vai custar. Pago o preço que for ao melhor cinco estrelas da cidade.
Imagine só o pão-duro do Joel falando isso.
É! O desespero faz coisas inacreditáveis acontecerem.
Percorremos a longa estrada que liga a BR 101 ao centro da capital de Aracajú.
Sorríamos. Esperançosos. Impacientes. Cansados.
-Uma banheira, um filé, uma cerveja e uma cama. É tudo que eu preciso. Dizia eu.
Por volta das 22 horas, já estávamos percorrendo a mesma avenida no sentido contrário. Não havia vaga em hotel nenhum.
Decidimos ir em frente, mesmo esgotados.
Havia outro problema. O carro. Para mantê-lo na garantia, deveria passar pela revisão.
Quando entramos na 101 resolvemos arriscar. Paramos numa churrascaria de beira de estrada, saciamos a fome e a sede e perguntamos ao proprietário se ele tinha quartos.
Tinha.
Os dois quartos que alugamos, tinham o mesmo perfil:
Uma pequena cama de colchão duro encostada na parede, um armário e o acesso ao corredor que conduzia o hospede ao banheiro coletivo de água fria, nos fundos do prédio.
Sem exagero, foi um sono esplêndido, revigorante. Joel confidenciou que também estava recuperado e pronto pra outra.
Retornei ao centro de Maceió. Na concessionária: troquei o óleo do carro, carimbei o manual do Chevette e parti em busca do Joel que ficara à espera no “hotel”.
Não sem antes tomar uma multa, por excesso de velocidade, na longa avenida que conduz a 101.
Fim de tarde entramos no Recife e tomamos o rumo da Paraíba contando os quilômetros que faltavam até Natal. Viajávamos tranquilos quando fomos surpreendidos por um Corcel 2 que emparelhou junto ao nosso carro. Os integrantes do veiculo: Pedro Pradera e Cláudio Oliveira, jogadores do ABC que jogaram comigo no Ceub de Brasília e procediam da capital federal, fizeram a maior algazarra comemorando o inusitado encontro.
-Tira o pé do freio Joel! Gritou Pradera, que tocou em frente, queimando o chão.
Próximo a João Pessoa na Paraíba, passamos lentos em frente a Polícia Federal. E ficamos pasmos ao ver, estacionado ao lado da casinha dos federais, o Corcel dos colegas brasilienses.
Encostamos ao lado e entramos no recinto dos homens.
-O que houve com vocês?
-Não vimos a sinalização e passamos aqui em frente a 120 por hora. Respondeu o Oliveira.
Joel e eu ainda tentamos ajudar, falando de futebol e dos craques do ABC.
Acho que não sensibilizamos muito os federais.
Quando retomamos a estrada os dois ainda ficaram na companhia dos homens da lei.
Não sei quando chegaram a Natal.
O certo mesmo é que não passaram mais por nós.
E olha que nem aceleramos o nosso fiel Chevette.

Figurinha do CEUB, 1974: Pedro Pradera, Cláudio Oliveira, Jorge Luiz, Emerson, Rildo e Valdir; Massagista Marreta, Gustavo, Gilberto, Carlos Alberto, Péricles e Dario.

Vasco, 1968: Joel Santana, Celso, Buglê, Valdir, Alcir, Nado e Acilino

5 comentários:

BLOG DO ROBERTO VIEIRA disse...

Cara, fantástico! Lembrei das velhas aventuras com o Corcel!

Adalberto Day disse...

Valdir
Você é o cara, cada vez me impressiono mais com seu vasto acervo. A do Chevette é muita interessante. Mas meu querido Chuquinho aquelas fotos ao lado do meu querido Vasco, Paulinho, Brito e Ita, eu era fã desses três , eu comprava todas essas revistas de esporte, ainda tenho algumas. E essa do Célio que foi um do maiores centro avantes que o Brasil já teve. Fez fama no Coringão, veio do Jabaquara, no Vasco junto com o Mário e na Argentina onde virou até cantor.
Valdir você me deixa emocionado....obrigado pelo belo trabalho.
Você como bom botafoguense, tem o coração pulsando Vascooooo.
Adalberto Day cientista social e pesquisador da História em Blumenau.

Osvaldo disse...

Valdir;

Sempre nos surpreendendo com maravilhosos contos reais...

Imagino o mundo de gente que o Valdir conhece no meio futebolistico brasileiro. Fico maravilhado com suas histórias.

Só uma perguntinha. Já no seu tempo de goleiro, vários atletas singraram na Europa e em especial em Portugal, como o Dé, Zanata, Paulinho Cascavel e muitoa outros. O Valdir nunca recebeu convite para jogar por aqui?.

Um abração, amigo Valdir,
Osvaldo

Valdir Appel disse...

Osvaldo,
Por uma incrível falta de sorte, não pude aceitar convites do Ajax da Holanda e de um time de Portugal,comandaddo pelo Paulo Amral, em 1972/73
Estava operado do joelho e não tinha comndiçoes de jogar,
abraço.

Anônimo disse...

Essa do Chevete foi boa hein Valdir,,,bons tempos, parabéns ler seu post é uma viagem mesmo...Genildo Oliveira/Mossoró Rn