Capilé, o gago.
Lembro como se fosse hoje.
Em 1964, o Carlos Renaux tinha em seu elenco um jogador diferenciado. Seu nome verdadeiro eu desconheço. Seu apelido, sim, Capilé.
Capilé era um ponta direita nato. Magro de pernas finas, lépido e driblador.
Tinha, porém, um problema, a sua incômoda gagueira. Por isso, fugia da imprensa – ou melhor, do microfone - como o diabo foge da cruz.
Dia de clássico. Carlos Renaux x Paysandú. Casa cheia, foguetórios, hino a todo pulmão. O do Paysandú, porque o do tricolor Renaux, ninguém até hoje sabe cantar.
Os times cumprimentam de mãos dadas às torcidas, primeiro os geraldinos e por último os privilegiados torcedores da arquibancada e da tribuna de honra.
O repórter Silva Tavares, da Rádio Araguaia, matreiro como só ele, aproxima-se dos jogadores, coloca o microfone praticamente na boca do Capilé, e pergunta:
-E aí Capilé, quem é o favorito neste clássico?
Capilé, desconsertado, não tem como se esquivar e fugir do repórter, tenta responder:
-Acho qui qui qui nóis so so somos....
-Amigos, acabam de ouvir as impressões do Capilé, sobre a partida.
Silva Tavares estaria correndo até hoje, e o Capilé o teria alcançado, se um providencial amigo do repórter não tivesse fechado a porta do vestiário dos árbitros, por onde o repórter evadiu-se, pelo lado de dentro.
Os ouvintes sintonizados na Araguaia morreram de rir.
O público presente ao estádio Augusto Bauer ficou sem entender nada do episódio.
Foto: Estádio Augusto Bauer.
Um comentário:
Valdir
Também não lembro do nome do Capilé, que era gago, e fugia dos microfones, das entrevistas. Mas sempre foi assim, lembra até lateral Eurico do Palmeiras nos anos 70, fazia o mesmo.
Bela história e dessa tem um monte por ai, dos jogadores gagos, mas nada que deixe de mostrar seu valor como atleta.
Fatos e fotos incríveis de nosso futebol Bretão.
Abraços Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau
Postar um comentário