terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Futebol, superstição e religiosidade
Por Victor Kingma

Suécia, 1958. Após uma campanha brilhante, o Brasil chegou à decisão da 6ª Copa do mundo como grande favorito. Ninguém podia imaginar que a aplicada seleção sueca pudesse fazer frente ao futebol arte de Didi, Garrincha e Pelé, que vinha encantando o mundo. Ainda mais após a exibição de gala nas semifinais, onde tinha goleado por 5 x 2 a poderosa seleção da França .

Entretanto, a dois dias da final, os organizadores tinham um grande problema a resolver: as duas seleções utilizavam o uniforme amarelo. Normalmente, seguindo as regras do cavalheirismo esportivo, era comum que os anfitriões, como gentileza, permitissem que os visitantes utilizassem o seu uniforme oficial. Mas os dirigentes suecos não o fizeram, e a FIFA, sem alternativa para o impasse, marcou um sorteio para decidir quem teria que utilizar camisas de outra cor.

O Brasil, em protesto, não enviou representante para acompanhar. E não deu outra. Perdeu o sorteio, que muitos acreditam tenha sido manipulado. Não poderia, então, jogar com a sua tradicional camisa amarela. Pior: o branco era o outro uniforme disponível para disputar a finalíssima. Supersticiosos, vários jogadores logo lembraram do desastre de 1950, onde o Brasil, grande favorito, e jogando de branco, inexplicavelmente, perdera a copa para o Uruguai, em pleno Maracanã, no maior desastre da história do nosso futebol.

Diante do clima de preocupação que tomou conta de todos, Paulo Machado de Carvalho, o chefe da delegação, resolveu apelar para a superstição e religiosidade dos brasileiros: a seleção disputaria a final da copa com a camisa azul, cor do manto de Nossa Senhora Aparecida.

E ainda lembrou aos jogadores que, nas últimas cinco copas disputadas, quatro delas foram vencidas por seleções que utilizaram camisas azuis, recordando os feitos da “Azurra” Italiana em 1934 e 1938 e da “Celeste” Uruguaia em 1930 e 1950.

Um uniforme azul foi então comprado às pressas em uma loja de artigos esportivos, em Estocolmo. Mário Américo, o massagista, e Assis, o roupeiro, passaram o sábado, véspera do jogo, costurando os números e os escudos retirados das camisas amarelas.

No domingo, dia da grande final, os nossos craques, livres da “maldição” da camisa branca e protegidos pelo manto sagrado da padroeira do Brasil, fizeram prevalecer a sua classe e, ao vencerem a Suécia por 5 x 2 conquistaram a primeira copa do mundo para o nosso país.

Na foto, a Seleção Brasileira, campeã do mundo, em 1958:
Em pé: Djalma Santos, Zito, Belini, Nilton Santos, Orlando e Gilmar;
Agachados: Garrincha, Didi, Pelé, Vavá e Zagalo.

5 comentários:

Adalberto Day disse...

Valdir
As galegas da Suécia jamais vão esquecer os jogadores do Brasil, principalmente Pelé e Garrincha que possui filho por lá. Elas iam aos treinamentos e deixavam atônicos os jogadores canarinhos, principalmente os da raça negra eram os mais procurados. Penso isso tudo ajudou a motivar mais ainda nosso glorioso escrete.
Quanto à superstição das camisas, realmente existiu, porém jogadores como esses de nossa seleção, sem exceção, nada afetaria. O Grande Paulo Machado de Carvalho, que era o chefe da delegação, foi fantástico em sua psicologia eu diria, e não superstição. Quase a totalidade dos brasileiros possui devoção e respeito absoluto a Nossa Senhora Aparecida, e seu manto azul é notório. Agora essa de retirar os números e escudos das camisas amarelas, eu não sabia. Então fomos campeões com camisas suecas, e foram bem costurados.
Eu particularmente, acho que nada disso influencia, eu prefiro e acho bem mais linda as camisas azuis. Porém as amarelinhas se tornaram preferência nacional.
Este escrete de 1958,62,70 – eu sei de cor e salteado até hoje. Exemplo sei que o De Sordi foi titulares em todas as partidas, porém na última optaram por Djalma Santos, devido o gramado encharcado, e ele o Djalma em uma partida se tornou o melhor lateral da copa. Tem outras histórias dessa copa, como tirar Dida e colocar Pelé...como tirar Joel e colocar Garrincha, como tirar Mazzola e colocar Vavá...e até a história do Garrincha que comprou um rádio e depois vendeu baratinho pois alguém disse á ele que o rádio só falava sueco....lindas histórias.
Parabéns por nos brindar com mais este belo texto.
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau

Anônimo disse...

Valdir, que história sensacional! Desculpe a minha ignorância, mas sincera e honestamente eu não sabia que o Brasil tinha disputado a final de 50 com camisas brancas... Até que foi legal esse episódio na Suécia, pois na minha humilde opinião, o uniforme azul é muito mais bonito que o amarelo e que esse branco que eu nem imaginava que um dia teria feito parte do grupo de uniformes da seleção... (digo isso endossando que é com todo respeito à amarelinha, é claro!) Grande abraço, Valdir! Seu blog é show de bola!

BLOG DO ROBERTO VIEIRA disse...

Mestre Valdir, imagino que tal time venceria a Suécia mesmo vestindo-se de cor de rosa, atuando de salto alto e melecado de batom. Que acha?

Anônimo disse...

Chiquinho, vc viu 3 feras desse time jogando em Brusque poucos meses antes dessa copa, naquele jogo histórico CA Carlos Renaux 5x5 Botafogo. Reconhecida como a maior partida de futebol já realizada em Santa Catarina.

Além de Nilton Santos, Didi e Garrincha, que valiam 50% da seleção, outros jogadores como Quarentinha faziam parte do grupo.

Chiquinho, esse parágrafo a seguir que vc escreveu diz tudo.

Ah, mas o time do Renaux era magnífico! Julinho, Esnel, Teixeirinha, Mosimann, Agenor: extraordinários jogadores que não foram avisados de que deveriam ser apenas coadjuvantes do espetáculo, e não permitiram que o seu palco fosse usado pelos visitantes, sem antes dar uma amostra da arte catarinense de jogar futebol.

Abraço
Aluizio

Valdir Appel disse...

Mais uma vez obrigado pela presença sempre obrigatória com os teus comentários, Adalberto

Geraldo,
Já fico de olho nos teus comentarios. Valeu

Mestre Vieira, tens razão e com um pé nas costas.

Aluizio,
Tens razão. Tive o privilégio de ver estes craques. Por isso não me canso de referencia-los.