Futebol para delegado ver
Adilson Morais de Albuquerque é um cidadão pacato, risonho e disposto a um bom papo. De preferência ao lado de uma lourinha suada. Tem muita história para contar. É um dos quatro irmãos Albuquerque, filho de seu Arlindo, dono de mercearia na Estrada dos Remédios, no Recife, e torcedor do Santa Cruz. Por morarem na região onde está situado o Sport Club do Recife, os filhos de Seu Arlindo foram se bandeando para lá, a começar pelo primogênito, Almir, que se consagraria mais tarde como o Pernambuquinho, vestindo principalmente a camisa do Vasco.
Além de Almir e Adilson, Ayres, também conhecido por Chumbinho, e Arlindo (já morto, como Almir, que, depois de ter se envolvido em tantos episódios em que teve que mostrar valentia, perdeu a vida numa briga besta de bar, em Copacabana). Todos deram para a bola, todos eram esquentados e todos foram bater em São Januário, cada um a seu tempo, com Almir abrindo caminho.
Arlindo foi o que menos jogou. Logo formou-se em educação física, como Ayres. Este passou pelo Almirante e atuou no Boca Juniors, de Buenos Aires, levado pelo irmão guru. Lá fez mais nome do que o Poderoso Chefão. Adilson esteve vários anos no Vasco, andou por aí, inclusive Europa, especialmente Bélgica, e ainda voltou a vestir a camisa do Sport antes de descalçar as chuteiras.
Adilson, estava em campo na noite de 19/11/1969, quando Pelé fez o milésimo gol. De pênalti. Só que o pernambucano se encontrava no lado perdedor, o Vasco. No Santos, o lateral-esquerdo Rildo, também pernambucano e igualmente saído do juvenil do Sport. No apito Manuel Amaro, alagoano radicado em Pernambuco. Quando da marcação do pênalti, que existiu, o juiz levou uns bicudos, de leve, de alguns vascaínos, entre eles Adilson, hoje um tranquilo funcionário público no Recife. Adilson nos velhos tempos aprontava, talvez nem tanto quanto o Pernambuquinho, mas fazia das suas.
O ex-goleiro Valdir, hoje blogueiro e escritor, companheiro de Adilson no time vascaíno – era o reserva do argentino Andrada na partida do milésimo - , conta uma das inúmeras trapalhadas em que Caveirinha, como o atacante era conhecido na intimidade, se meteu no Rio:
O pernambucano Adilson e o goleiro juvenil Tuca resolveram espairecer no Teatro Rival. Na época, uma parede de oito metros de altura dividia os sanitários masculino e feminino da casa. Adilson subiu com dificuldades uma escadinha que conduzia ao topo do teatro e, de lá, se posicionou para brechar a paquera no toalete vizinho.
Deu azar: a mulher viu o seu vulto e chamou o segurança do teatro. Apanhado com a boca na botija (ou quase!), o alpinista foi recolhido juntamente com o seu cúmplice, Tuca, ao distrito policial mais próximo. Interrogados, tentaram aliviar a pressão, dizendo que eram jogadores do Vasco.
O delegado, um gozador (por sinal, flamenguista), resolveu colocá-los à prova. Às 3 horas da manhã, levou-os para a quadra de futebol de salão, no pátio da delegacia. Colocou Tuca no gol e Adilson chutando bolas pro goleiro defender. Adilson estava recuperando o joelho operado e seus chutes saíam de canela e sem força. Os policias em volta sacaneavam os dois: "Tá mal o Vasco, heim?""Este aí mal sabe chutar!""É por isso que esse time não ganha de ninguém!".
Após uma boa reprimenda, o delegado liberou os dois, certo de que a punição tinha sido exemplar. Os dois folgados chegaram em São Januário com o sol raiando, um para treinar e outro direto para o departamento médico, para cuidar da recuperação do joelho.
Foto: Adilson e Valfrido (os dois são pernambucanos)
3 comentários:
Valdir
O Lenivaldo faz uma bela descrição da família Alburquerque, aqui em especial sobre o Adilson. Nessa época eu acompanhava o Adilson que era um bom jogador, mas aprontador como o Almir que estava no Flamengo e um ano antes 1966, correu atrás de meio time do Bangu. Parabéns ao autor do texto e ao Chuiquinho por nos disponibilizar mais este belo conto.
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história.
PARABÉNS VALDIR MUITO INTERESSANTE ESSE SEU BLOG, PESQUISANDO SOBRE O MEU QUERIDO BONSUCESSO, CONSEGUI ACHAR ESTE.
VI QUE NO LIVRO, GOLEIRO ACORRENTADO, TEM UMA BANDEIRINHA DO BONSUCESSO BEM ALI NO CENTRO DA IMAGEM. TE PERGUNTO, SE O RUBRO-ANIL TEM PARTICIPAÇÃO NESTE LIVRO? E SE TEM COMO FAÇO PARA REGISTRAR ALGUMAS HISTÓRIAS? SE TIVER COMO ENTRAR EM CONTATO COM VOCÊ, MEU E-MAIL É andersanttos@gmail.com
MUITO BOM O BLOG, E VI QUE TEM UM LEITOR DE PESO, GRANDE IATA ANDERSON (QUASE CHARA), QUE TENHO O PRAZER DE ESCUTA-LO, TODOS OS DOMINGOS NA SUPER RADIO TUPI, ABRAÇOS.....!!!!
Anderson,
respondi por email, abraço
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