quinta-feira, 30 de junho de 2011

Quando eu ia ela voltava...
O escritor e dramaturgo Ariano Suassuna é um fervoroso torcedor do Sport
  • Por LENIVALDO ARAGÃO
O mestre Ariano Suassuna era muito amigo do célebre compositor Capiba, uma verdadeira glória da música pernambucana. A amizade vinha de muito tempo, desde a época em que eram estudantes.
Embora tenha nascido em Surubim, cidade localizada no Agreste pernambucano, berço também do famoso apresentador de tevê, Chacrinha, quando Capíba veio se fixar no Recife procedia de Campina Grande, Paraíba. É que em certo momento da vida, o pai do então futuro compositor, o velho Capiba, igualmente músico, resolveu ir ganhar a vida na Rainha da Borborema.
A procedência de Ariano também é a Paraíba. Só que ele não nasceu no Interior, mas em João Pessoa, a Capital, que já foi chamada de “a pequenina e bela”. Na época, o pai de Ariano, João Suassuna, era governador do Estado. Depois, Ariano foi morar em Taperoá, e por último no Recife. Se não é pernambucano de fato, o é de direito, pois a cidadania já lhe foi outorgada. Muita gente nem sabe que ele viu a luz do dia pela primeira vez no vizinho Estado, e não em Pernambuco.
Essa dupla genial tem uma imensa folha de serviços prestados à cultura pernambucana, cada um na sua especialidade. Ariano é um estupendo romancista e um senhor dramaturgo, além de ser um grande contador de histórias. Capiba, falecido em 1997, com 93 anos, deixou um sem-número de composições em gêneros os mais diversos, embora tenha ficado mais conhecido pelos inúmeros frevos-canção que compôs.
Fora das suas atividades – além de músico, Capiba foi um caprichoso funcionário do Banco do Brasil -, os dois amigos tinham uma paixão comum: o futebol. Capiba chegou até a fundar um time em Campina Grande. Todavia, não foi em frente dentro das quatro linhas porque a família “deportou-o” para João Pessoa a fim de estudar.
Ariano é um apaixonadíssimo torcedor do Sport. Se o Leão joga, desde que esteja no Recife, ninguém arrume programa para ele na hora do jogo. Seu lugar é na Ilha do Retiro, geralmente de calça preta e camisa vermelha, junto ao povão. Capiba era apaixonado pelo Santa Cruz e, inclusive, fez até música para o time do seu coração – Santa Cruz, Santa Cruz/ Junta mais essa vitória... – Até certa etapa de sua vida, não perdia uma partida do Santa.
Na conversa entre ambos sempre havia espaço para o futebol. Portavam-se como criaturas civilizadas, cada qual respeitando a opinião do outro.  Até que um dia, na casa de Ariano, eles se exaltaram. Capiba, que era meio explosivo, saiu abruptamente, ligou o carro e se mandou para o Espinheiro, onde residia.
Passados alguns minutos, Ariano chegou à conclusão de que não valia a pena perder um amigo de longas datas por causa de uma discussão besta sobre futebol. Pegou um táxi e mandou-se para a Rua Barão de Itamaracá a fim de pedir desculpas ao companheiro de longas eras. Só que não encontrou o “desafeto”.
Capiba tivera o mesmo sentimento e àquela altura rumava para Casa Forte em busca da reconciliação. Algo parecido com aquela música consagrada pelo Quinteto Violado, que diz “quando eu ia, ela voltava, quando eu voltava ela ia...” 

(Crônica publicada na Revista dos Esportes, edição janeiro/fevereiro de 2011)

5 comentários:

Saulo Adami disse...

Bom dia, goleirão!

Sei que vai parecer "redondância", como diria o filósofo corinthiano Vicente Matheus, mas teu blog está SHOW DE BOLA, mizi fiio!

Vai em frente, mas não descuida dos arcos!

Abraço,

Saulo Adami
Escritor

Adalberto Day disse...

Valdir
O Lenivaldo é genial, que belo texto.
E você por sempre nos proporcionar belos trabalhos. Avante Valdir e conte mais e mais histórias de nosso futebol bretão.
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau

Dirceu Dalmaz disse...

AMIGO VALDIR, PARABENS PELOS TEXTOS , CONTINUE RELEMBRANDO SUA VIDA E DE SEUS AMIGOS NO FUTEBOL, UM ABRAÇO.

Camisasdosport disse...

Ótimo texto. Grande Lenivaldo Aragão. Gosto das coberturas que ele fazia do futebol pernambucano, para a Revista Placar, nas decadas de 70 e 80. Tenho varias reportagens assinadas por ele sobre o Sport. Um Abraço Valdir.

Iata Anderson disse...

AMIGO VALDIR, parabéns por mais um blog sensacional, com muita coisa boa, fotos magníficas.
Gostei muito daquele time do Flamengo de 1976. Lá estão alguns amigos, uns saudosos, como
Geraldo e Modesto Bria. Cobri o Flamengo com o Mestre Froner, uma pessoa doce, bom papo,
conhecer de futebol como poucos. Ali estão Modesto Bria, Julio Cezar Leal (de bigodão), Lazarone,
Cantarele, Luisinho, Dendê, Vanderlei Luxemburgo, Dequinha, Roberto (goleiro), Caio Cambalhota,
entre outros. Maravilha.

Grande abraço
Iata Anderson