sábado, 1 de setembro de 2012

O folclórico Bill
O lendário centroavante Bill reintegrou-se ao elenco do Goiânia em 1978, após uma passagem bem sucedida por empréstimo ao Internacional de Porto Alegre, depois de atuar também pelo Vasco Da Gama. Vários clubes disputavam o seu passe, até o Grêmio, arqui-rival colorado.
Eu havia sido contratado e estava escalado para disputar uma partida amistosa com os juniores no fim de semana, para adquirir ritmo de jogo, na cidade de Porangatu, interior goiano. Bill quis saber o que a cidade tinha de interessante e pediu a sua inclusão na delegação. Encarou a viagem numa boa, fez questão de jogar os 90 minutos e voltou todo faceiro abraçado ao prêmio pela vitória, um enorme saco de deliciosas jabuticabas. Bill tinha vários apelidos: “Fio Maravilha Goiano” e “Billy the Kid”, eram os principais. O primeiro em função de seus causos e o segundo obviamente por ser um matador implacável, sempre artilheiro dos clubes onde atuou”.
Há uma tendência de atribuir aos jogadores folclóricos as mesmas trapalhadas e tiradas insólitas mesmo estando em extremos do país. Assim, são protagonistas das mesmas histórias: O Peu do Flamengo, o Dedeu do Náutico do Recife, o Valdomiro do Internacional e o Bill do Goiânia.
Todos os citados são apontados pelas seguintes passagens:
“É um orgulho jogar na cidade onde Jesus nasceu”. (Entrevista a uma rádio de Belém do Pará).
“Agradeço a caixa de cerveja Antártica que a Brahma me presenteou”. (Recebendo premio de melhor jogador em campo)
“Comigo ou sem migo, o time vai vencer”. (Vetado pelo departamento médico para o jogo).
“Eu não achei nada, o meu colega Zé, achou um cordãozinho de ouro”. (Repórter perguntando: “o que você achou do jogo?)”.
“Dá uma rézinha de R$ 5,00 que eu só tenho R$ 10,00”. (Pagando uma corrida de táxi).
“Ta tudo Gê-Gê”. (Abreviatura de joinha-joinha).
“Agora só falta comprar os azulejos, senão, compro vermelejo ou amarelejo”. (Construindo uma casa).
“Fiz que fui mais não fui e acabei fondo” (explicando um drible sobre o adversário).
Bill tinha os seus casos exclusivos:
Queria a todo custo que o seu amigo Canhoto, dono de uma fabrica de carimbos, fizesse um com o seu nome para assinar cheques, pois tinha dificuldades para juntar as letrinhas sobre o papel.
O Goiânia foi ao interior jogar contra o Rio Verde e perdeu de 1 x 0. Na volta, Bill foi multado. Perguntou ao guarda como é que ele sabia que o seu carro excedera os limites de velocidade. “Foi o radar, respondeu o guarda”.
‘’Radar, filho da mãe, mete gol na gente e ainda dedura pro guarda!”(Radar, nome do jogador que depois teve passagem pelo Flamengo)”.
No México: seu novo time, o América, promove uma coletiva com a imprensa local. Um fotógrafo chama a atenção do jogador, apontando para a sua máquina, tentando fotografá-lo em meio ao tumulto em volta:
-Bill! Bill! “Yashica”!
-Ficou no Brasil! Chega semana que vem. (Responde Bill). (Chica é o apelido da mulher do Bill).
O negro, alto e forte jamais se contundiu e jogou até bem mais de quarenta anos de idade. A sua longevidade nos campos se deve ao seu vigor físico e a sua necessidade de jogar sempre, afinal era tudo o que sabia fazer. E bem.
(Bill foi campeão goiano em 1985 pelo Atlético de Goiás e maior artilheiro estadual naquele ano com mais de 30 gols. Morreu atropelado de bicicleta no dia 22 de setembro de 2002. Este maravilhoso jogador estava na miséria e fazia bico de ajudante de pedreiro nos seus últimos dias).
Texto publicado no livro Na Boca do Gol.

Foto 1 - Bill comemorando com os companheiros um gol marcado contra o Atlético de Goiás, no Serra Dourada em 1978.



Foto 2 - Goiânia: Valdir, Ulisses, Neto, Odon, Krol e Lula; Tito Lívio, Toninho Almeida, Bill, Héber e Pedro Paulo.

2 comentários:

Adalberto Day disse...

VAldir
Bil Maravilha nós gostamos de você.
Olha lembro dele na passagem pelo Vasco - mas não passava de um Fiozinho sem expressão, não fazia muitos gols não. Mas o seu relato Valdir é exclente sobre os causos do tal Bily Kid.
Um abraço e bom feriadão.
Adalberto Day cientista social em Blumenau

Anônimo disse...

Valdir,

Só vc pra fazer eu perdoar o Bill pela perda do
campeonato carioca de 1974.

Que final triste e trágico ele teve.

Até a próxima.

Saudações vascainas. Antonio Estevan Neiva