sábado, 3 de agosto de 2013

Guabiruba

Pelo menos uma vez ao mês, boto a família no carro e vou para a Guabiruba, comer marreco.
A cidade está encravada no vale do Itajaí e o acesso a ela é fácil, desde que a gente parta de Brusque. A estrada tem curvas acentuadas e sinuosas, algumas tão fechadas que, de vez em quando, eu vejo a placa traseira do meu carro.
Uma longa avenida divide descendentes de alemães. De um lado os Boos, e do outro, os Boos, às vezes um Kormann. Toda a população ainda pratica um dialeto alemão que já não sabe mais escrever.
Chego ao entroncamento do acesso à Avenida Brusque.
Recomenda-se ao turista que dirija devagar ao fazer a travessia da cidade. Caso contrário sua estada será muito breve.
Durante muitos anos, um vereador discutiu na Câmara o seu projeto para implantação de um semáforo na cidade. Conseguiu a aprovação muito a contragosto, diga-se de passagem. Até hoje não o instalaram porque ainda não encontraram um cruzamento onde colocar...Esta avenida também causa um certo desconforto aos praticantes de caminhadas. São sempre interrompidos por algum conhecido que oferece carona.
Antes de chegar à Churrascaria Schumacher, dou uma passadinha no boteco do Boos. Já ouvi as histórias dele umas mil vezes. É que são tão engraçadas que não resisto!
O personagem mais folclórico que a cidade já teve foi o Mão de Onça. Todo anedotário da região é atribuído a ele. Uma das histórias: Mão de Onça e o seu primo Tívio foram ao Maracanã ver Vasco e Flamengo. O estádio lotado, pra lá de cem mil torcedores. Mão de Onça foi ao banheiro fazer pipi. Na volta errou o acesso à arquibancada. Pediu informações a um torcedor vascaíno, perguntando-lhe se ele não tinha visto o Tívio. Ainda tentou descrevê-lo:
“É um alemon, grandon!”.
Nem a esposa do Mão de Onça escapa:
"Bela! Que lindo anel que você tá usando. É diamante? “ Nooom! Foi o meu marrrida...o Mooomdeonça que medeu!”, respondeu indignada a fiel esposa”.
Na saída da cidade pela Rua São Pedro, a gente chega a uma bifurcação que permite o acesso para os bairros: Holstein, Alsácia e Lorena.
Posso imaginar um casal de turistas, saindo do porta-malas de um carro – em plena madrugada - buscando socorro, após refeito do susto e do pânico de um seqüestro. Pelas placas, vai acreditar que está na Alemanha. E a certeza vai aumentar quando uma porta se abrir e alguém perguntar:
“O que dessecha?”
Após os esclarecimentos, a moradora vai voltar-se e pedir:
Oma, diz pra Opapa que tem dois senhorras perrtida. Vai chá telefonar pro policia!
Na Churrascaria Schumacher, que é dos Kormann, a mesa é farta. O marreco mais conhecido do país vem acompanhado de repolho roxo, purê de batata, macarrão sem conservante, língua e costelinha de porco. Às quintas e domingos o eisbein enriquece os pratos.
Huuuumm!
Meu cunhado pede a conta ao senhor Schumacher.
“São 90 báus!”
“Seu Schuma! O senhor poderia explicar o que está escrito? Aqui diz:
4 marrecas
5 bias
6 refrixerantes
2 xanta dos beguenos.
O que são beguenos?”
“Orra, senhora César! Son 4 xantas pros xente grandes: ain, tsie, trai, fia, e dois pros beguenos. ain, tsie...”.
Conta, apontando para as minhas sobrinhas de dois e cinco anos.
Coisas da Guabiruba. 

*Oma-avó; Opapa-avô
  eisbein-joelho de porco


Residência de Leo Kormann serviu como sede da Prefeitura de Guabiruba (Arquivo Boos)

4 comentários:

Adalberto Day disse...

Valdir Chiquinho
Meu caro amigo estou rindo até agora kkkkkkkkkkkkkk
Essa história é sensacional, parecida com aquela do DUMBO - sabe eu conheço muito bem Guabiruba, e as histórias dos Marrecos. Meu pai também foi nascido em Brusque. E os Boos, tem alguns desses que vieram morar em Blumenau, O Wilson, Armando, Mário - eles foram muito bons no atletismo - o Armando Boos mora próximo a minha residência e foi campeão pelço Amazonas, seleção de Blumenau muitas vezes do ciclismo.
Um abraçoa e sucesso ao amigo.

Anônimo disse...

Adalberto,
Claro que a Guabiruba não é só Boos, Boos e Kormann, tem tambem os Fischer (maldade!).
Abraço,
Valdir

Suzana Mafra disse...

Valdir,

Muito legal este texto, divertido. Na verdade, leio pela segunda vez, tendo em vista que sou a intermediadora da Oficina de crônicas.

Tbém gostei das outras postagens do blog. Fotos interessantes, antigas.

Não sou ligada em futebol, mas meus irmãos, de tão apaixonados, brincavam de "radiar" jogo antes de dormir.

Parabéns, abraço

Margranz disse...

Parabéns pela sua história no esporte e parabéns por manter neste espaço parte da memória do futebol e cultura catarinenses!