sexta-feira, 29 de junho de 2012

Causos da bola

O roupeiro

Amaro, primeiro roupeiro do Voltaço, faleceu recentemente num acidente de trânsito, atingido em cima de uma calçada por um carro desgovernado. Era uma figura dócil e amiga.
Cuidava, como poucos, do material dos jogadores.
Falava um português de virar Rui Barbosa no caixão e nos divertia como ninguém.
Costumava dizer que o seu filme preferido foi o bang-bang Búfalo-Bio e que o massagista Chico estava negociando a sua ida para a Arábia-Sardita.
Batia muito papo com o nosso ponta-esquerda Paulo César “Espanta Neném”, sobre o uso do desodorante preferido dos dois: O Ioiô..


O teste

O médico do Voltaço, doutor Reinaldo, mandou um sobrinho, goleiro, pra fazer teste entre os profissionais. Bem que o rapaz impressionou na chegada. Uniforme zero bala, luvas importadas, chuteiras tinindo de novas.
O técnico Paulinho de Almeida viu de cara que o guri não pegava nada. Como estava de bom humor armou um treinamento especial para o esperançoso goleiro.
Colocou os avantes do time: Acilino, Jailson, Mauro, Espanta Neném e Jorge Cuíca na entrada da área e ordenou um bombardeio contínuo ao arco defendido pelo goleirinho, que mal conseguia se recuperar de um chute e lá vinha outro. Não demorou muito para o pobre rapaz cair ofegante e quase desmaiado dentro do gol.
Nunca mais apareceu.
(Voltaço, 1976)


Quarenta

A partida final do Campeonato de Praia realizada em Balneário de Camboriú foi disputada pelo time local do Tubarões e o Parús de Brusque.
Em volta do campo de areia demarcado por fitas, os torcedores se acotovelaram. Os brusquenses, como sempre, ficaram atrás do gol, azucrinando o goleiro.
Nelsinho, da vizinha cidade de Guabiruba, falava mais do que o técnico Edison Cardoso do Parús. Esbravejava, orientava :
“Toca pro Quarenta! Lança o Quarenta Ricardo! Assim não dá! Ô Edison manda os caras jogarem na área pro Quarenta!”
No bolo humano formado em volta do Nelsinho, um torcedor atento, provavelmente turista, perguntou:
“Por acaso o senhor não está equivocado? O seu time não tem nenhum jogador com o número quarenta.”
“Claro que não, ó inteligente! Quarenta é o apelido do camisa 9.”


Efeito colateral

Em Uberlândia/MG, numa quarta-feira à noite, contra o time do mesmo nome o Ceub fez uma excelente partida e venceu por 1x0 em que pese ter tomado um sufoco nos minutos finais.
Após a partida, os jogadores foram liberados para a tradicional saída, que consiste na busca de bares e casas suspeitas da cidade, e que, na prática, acaba em rodinhas de louras suadas varando a madrugada.
Antes de sair com os colegas, pedi ao doutor Fleury um relaxante muscular ou antiinflamatório para abreviar as dores de uma pancada que sofri nas costas.
-Doutor, vou dar uma saidinha com a rapaziada, tem problema se eu beber cerveja?
-Fica tranqüilo Valdir, a cerveja não corta o efeito do remédio.
-Doutor, o senhor não entendeu, eu quero saber é se o remédio não corta o efeito da cerveja!


Ilustração O Roupeiro: cartum de Aldo Maes dos Anjos

2 comentários:

Anônimo disse...

Valdir
Vou fazer um comentário - sem comentário.-, Olha você é do tipo de esportista que precisamos...não nos abandone...continue firme, forte e sádio para nos brindar sempre com belos causos. Mas gostei mesmo da foto do Vascão 1972 de Roberto Dinamite, Andrada e Tostão - bons tempos.
Um abraço e bom final de semana.

Adalberto Day disse...

Grande Valdir
Mais um belo conto. Amigo você é o cara. Como nosso futebol ganha com suas crônicas , causos e lembranças
Abraços
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau