Por Valdir Appel
No início dos anos 60, eu e um punhado de amigos acreditávamos que o filme Sete homens e um destino, (The Magnificent Seven,1961), seria o western definitivo.
Baseado em Os Sete Samurais (1954) de Akira Kurosawa, o filme conta a história de um grupo de mexicanos, sem armas, pacífico, que contrata pistoleiros para defender o seu pequeno vilarejo dos ataques do bandido Calvera, interpretado por Eli Wallach.
Yul Brynner, Steve Mc Queen, Charles Bronson, James Coburn, Robert Vaughn e o alemão Horst Buchholz completam o estelar elenco deste filmaço,
que depois teria três seqüências menores: 1966 - A Volta dos Sete Magníficos (Return of the Seven) 1969 – A revolta dos sete homens (Guns of the magnificent seven) 1972- A fúria dos sete homens (The magnificent seven ride). A fantástica trilha sonora de Sete homens e um destino, assinada por Elmer Bernstein foi indicada ao Oscar.
Em 1966, o lançamento de The Good, The Bad and the Ugly ou Il buono, Il brutto, Il cattivo provou que nos precipitáramos.
Com Clint Eastwood, Lee Van Cleef e Eli Wallach nos papéis-título e nesta ordem, o filme dirigido por Sergio Leone com trilha sonora de Enio Morricone é considerado por muitos como o melhor western de todos os tempos.
Este filme completou a trilogia iniciada com A fistful of dollars (1964) e For a few dollars more (1965), e é constantemente reprisado em algum canal retrô da TV paga.
O western-spaghetti invadiu as salas de projeção de todos os cinemas do Oiapoque ao Chuí e não foi diferente no Rio de Janeiro.
Nestas produções italianas, apenas os atores principais falavam inglês, os demais eram dublados. Invariavelmente a música clássica de Enio Morricone invadia a tela tecnicolor e dava o ritmo às cenas. A inclusão da harmônica na música, antecipava o clímax do duelo:
Rua poeirenta, sol escaldante. A porta vaivém do bar se move com uma golfada de ar. Uma mosca ousa sobrevoar o chapéu do pistoleiro. Homens se estudam, comprimem o cigarro na canto da boca. Um gesto discreto afasta a capa do coldre.
Bang-bang.
Spaghetti na concentração
Palheta |
Geralmente a escolha recaía em algum “spaghetti”, com Eastwood, Franco Nero ou Giuliano Gemma que assistíamos, de preferência, na Cinelândia, centro da cidade maravilhosa, pleno de casas noturnas, ótimos hotéis, teatros, bares, bons restaurantes - sem esquecer do Cordão do Bola Preta e de outros serviços indispensáveis prestados pelas Damas da Noite aos solitários transeuntes.
Na Cinelândia ficavam os melhores cinemas da cidade em imponentes prédios de rica arquitetura: Pathé, Capitólio, Rex, Metro, Rivoli e outros.
O supra-sumo era freqüentar o Amarelinho e tomar chope em sua calçada.
Hoje apenas o Odeon sobrevive à dizimação destas casas da sétima arte.
De vez em quando a turma optava por ver um filme na concentração. O frio das Paineiras levava todo mundo para a sala de projeção, envolto em cobertores. O projecionista contratado colocava o primeiro rolo de celulóide no projetor, apagava as luzes e iniciava a sessão.
Era tiro pra todo lado, zunindo por cima dos jogadores que se agachavam por precaução.
Difícil era compreender a trama do filme porque não era só o responsável pela projeção que trocava o rolo ao término de cada parte. O zagueiro Brito, aproveitava-se da escuridão e misturava-os sem que o incauto rapaz percebesse.
Geralmente as reclamações da platéia começavam quando o bandido morto na primeira parte do filme reaparecia vivinho na terceira.
Durante muito tempo só se viu:
Django, Sabata – diversos Sabatas, Era uma vez no oeste, Meu nome é ninguém, e qualquer variável do gênero que ficou no gosto da rapaziada até o advento da era Trinity quando o faroeste macarrônico virou comédia.
Graças a Terence Hill e Bud Spencer que bagunçaram o velho oeste e fizeram todo mundo rir com as suas aventuras. A dupla era uma réplica perfeita dos personagens de Uderzo e Goscinny: Asterix e Obelix.
Sempre que eu podia, ia para a Praça Saens Peña, na época rodeada de cinemas, pelo menos uns doze: Art Palácio, Metro, América e outros. Na Praça, fazia um rango ali no Café Palheta e encarava a seção das duas no Cine Carioca, colado ao café.
Aliás, o Palheta merece alguns comentários.
Era o ponto de referência dos tijucanos. Ali se marcava encontros, reuniam-se as turmas para agitar, jogar sinuca no andar superior, além do gostoso café e lanches.
Nem olhava o cartaz do filme em exibição, o que eu buscava era um aconchegante ar condicionado para recuperar as energias do estafante treino matutino.
10 comentários:
Prof. Valdir, Não nos conhecemos, sou Prof. de Ed. da Universidade de São Paulo, campus Sào Carlos e recebo sempre seus e-mails acho muito interessantes e produtivos, gostei muito do Cinema Spaguetti.
Não sei como estou recebendo seus e-mails mas agradeço muito.
Forte abraço,
Prof. Damiano
Ah, os cinemas antigos... Especialmente os da Praca Saens Pena, que eu frequentava quase diariamente desde os 12 anos de idade. Depois dos 15, passei a usar uma carteira de estudante com idade falsificada para entrar em filmes proibidos para menores de 18 anos. Depois do filme, podia-se tomar um sundae de marshmallow em pe' no balcao do Bob's, ou, em dias com mais dinheiro no bolso, ia-se ao Palheta, sentava-se naqueles bancos redondos e comia-se um sundae banana split ou um waffle acompanhado de frape' de coco.
Vc parece crítico de cinema. Sete Homens e um Destino que assisti na década de 60, encontrei na web e baixei, desde então, tenho assistido 2 vezes por mês.
Dilton
Mauro,
Esqueci de falar do melhor Galeto do mundo, que a gente pedia no balcão, e no cinema que ficava na Praça Varnhagem, e que era caminho da minha casa na São Francisco de Xavier.Este cinema tinha um charme especial, porque ficava fora do eixo dos 12 da Cinelandia Tijuca.
E tinha o Ibeu, né my friend?
Abraço,
Valdir
Valeu Valdir
Gostei como sempre do belo texto - eu não assisti esse filme mas é como se estivesse assisinto, rico em detalhes....abraços
Adalberto Day de Blumenau
Filmaço! Lembrei dos cinemas de Recife que foram indo, indo, indo... sumindo. Boa Vista, Veneza, Art Palácio, AIP, Trianon, Ritz, Astor... virou tudo um aparelho de DVD com medo de assalto. Agora a onda é multiplex... cercado pelas paredes invioláveis dos shoppings. Grande lembrança, Mestre Valdir! Aqui da terrinha vão lembranças de um Baile Perfumado.
É Roberto,
Se tem uma saudade que muita gente tem, é do:
Flagra(no Escurinho Do Cinema)
Rita Lee
No escurinho do cinema
Chupando drops de aniz
Longe de qualquer problema
Perto de um final feliz
Se a Deborah Kerr que o Gregory Peck
Não vou bancar o santinho
Minha garota é Mae West
Eu sou o Sheik Valentino
Mas de repente o filme pifou
E a turma toda logo vaiou
Acenderam as luzes, cruzes!
Que flagra!
Que flagra!
Que flagra!
Abraço,
Valdir
Valdir,
nada melhor do que um bom filme e spaguetti, num sábado de noite! Muito obrigado por esta volta no tempo, e com a tua competência habitual de redator!
Grande abraço!
Saulo Adami
Escritor
Valdir,
Pelo que li, o xerife Brito era um tremendo sacana, né?! rsrs
Abraço e bom dia!
Ricardo.
Em tempo:
Parabéns pela matéria Cinema Spaghetti.
Até me deu vontade de assistir de novo "Os Sete Magníficos", que tenho na minha videoteca.
A mosca no rosto do pistoleiro (O Bom, o Mau e o Feio) é uma cena "cult" do faroeste italiano que, contrariando tudo que se imaginava na época, conseguiu sobrepujar as produções americanas do gênero, que já declinavam.
Aliás, declinavam porque o americano (USA) utilizava tudo para engrandecer o heroísmo dos seus cidadãos, enquanto que no spaghetti mocinho podia também ser bandido !
Lembrei-me ainda dos Ursus e Macistes italianos que fizeram furor nas telas do mundo inteiro com Steve Reeves e Cia. Cenários de papelão que impressionavam, quando efeito especial era efeito especial mesmo. Hoje o computador tirou a graça dos "ohs" que causavam nas platéias antigamente.
Bons tempos das matinés.
Abs
Braga Mueller
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