terça-feira, 21 de abril de 2015

A incrível noite do Rei Pelé
Cutucando onça com vara curta

O extinto Ceub, de Brasília, fazia boas apresentações no Campeonato Brasileiro de 1974. Vencera bem seu último compromisso e estava preparado para encarar o Santos, da Vila famosa, quarta-feira, no recém-inaugurado estádio Mané Garrincha.
Uma TV local promovia, às segundas-feiras, uma mesa redonda, onde discutia a rodada do Brasileirão, e o convidado bola da vez foi o recém-promovido a técnico, Cláudio Garcia, que encerrara no próprio Ceub uma brilhante carreira de jogador. Ainda desprovido das malícias do novo cargo, Cláudio foi presa fácil dos analistas do programa. Perguntaram ao incauto treinador:
“Quem vai marcar Pelé?”.
Cláudio respondeu que Pelé não era mais o mesmo jogador, suas funções em campo agora estavam voltadas para a preparação das jogadas finalizadas pelos atacantes Euzébio e Neném. Portanto, encarregaria aquele jogador que estivesse mais próximo do Rei o dever de marcá-lo. Cláudio não diminuía a genialidade do Pelé, apenas apontava mudanças em suas características.
Com a evidente intenção de promover o espetáculo, os jornais destacaram em suas manchetes no dia seguinte:
“Cláudio Garcia diz que Pelé não é mais o mesmo”.
O público lotou o estádio para conferir as palavras do Cláudio. Em campo, o ponta-esquerda Edu virou-se para o lateral Rildo, com quem jogara no Santos, e disparou:
“Vocês estão fodidos e mal pagos! O negão, sozinho, vai dar conta do teu time. Ele tá uma fera com o teu treinador”.
E foi o que aconteceu. Com jogadas geniais e um gol antológico, Pelé matou a pau, levando o seu time à vitória, apesar da primorosa atuação do Ceub.
As manchetes dos jornais de quinta-feira foram implacáveis:
“Cláudio Garcia tinha razão: Pelé não é mais o mesmo... está muito melhor!”.

Santos: Wilson, Hermes, Oberdan, Vicente e Turcão, Leo e Nelsi; Mazinho, Nenê (Brecha), Pelé e Edu (Eusébio) Ceub: Valdir. Luiz Carlos, Pedro Pradera, Emerson e Rildo; Alencar, Rogério Macedo (Gilberto) e Renê; Cardosinho, Juraci (Carlos Alberto) e Dario. Juiz: Arnaldo César Coelho (O que aplicava a regra quase clara)

 
Jogo de equívocosOs comentários do nosso treinador uma emissora de TV, dizendo que Pelé não era mais o mesmo, atraiu um público fantástico ao recém-inaugurado estádio Mané Garrincha.
O que os torcedores não esperavam (e puderam ver) foi o duelo particular entre o Rei e o nosso zagueiro Pedro Pradera.
Pradera entrou em campo disposto a anular Pelé de qualquer jeito. Chegava junto em todas, arrepiando, tentando intimidar o camisa 10 da Vila.
No primeiro tempo, o gol solitário do centroavante Neném nasceu de uma assistência de Pelé. Um chute forte e cruzado no meu canto esquerdo furou as redes e a bola foi parar quase na bandeirinha de escanteio. O juiz Arnaldo César Coelho e o bandeirinha se entreolharam, inseguros para determinar o centro do campo. Dúvida logo desfeita pelo nosso experiente lateral esquerdo Rildo, que correu para o fundo do gol, indo consertar a rede com as próprias mãos.
A turma da cozinha deu uma olhada fulminante para o lateral:
“Logo tu, Rildo?”.
Na segunda etapa, em magistral jogada vertical, Pelé deixou a defesa para trás, invadiu a pequena área, me tirou da jogada com uma finta de corpo, tocando de pé trocado a bola que se aninhou no canto esquerdo. Pradera, que vinha na cobertura, errou o alvo e acertou a minha canela. Deitado e com dores, comentei:
“Pradera, você tem que pegar a canela dele, não a minha!”.
A fatura estava liquidada, mas o nosso zagueiro não desistia de irritar o homem, e ao abalroá-lo por trás, mais uma vez, ainda ofendeu:
“Você é bom lá pras tuas negas!”.A reação de toda a retaguarda foi imediata. Corremos em direção ao nosso xerife, exigindo que ele se desculpasse. Afinal, Pelé já estava impossível, imagina irritado. (1974)

7 comentários:

Osvaldo disse...

Caro amigo Valdir;

Pelé, era de uma outra galáxia onde nem Maradona pasou perto.

Pelé o (quase) impossivel de marcar digo quase porque tinha um jogador português (Vicente) que sempre consegui encontrar o timming certo para o fazer e sempre conseguiu.

Também eu estava no Maracanã quando Pelé marcou o milésimo gol num jogo contra o nosso Vasco, pese todo o esforço do Andrada que ainda tocou na pelota.

Um abraço caro amigo Valdir.
Ps- Se quiser passar lá no meu blog, será bem-vindo.

Osvaldo

Adalberto Day disse...

Valdir
Quem manda cutucar a fera com vara curta. Pelé é sempre será eterno e o melhor. E você tomou este gol antológico então. Pelé teve muitos orgulhos na vida dele, ter feito 1000 gols, em cima do nosso Vascão – Campeão do Mundo, Melhor jogador de todos os tempos e ter jogado 5 partidas com a camisa do Vasco em 1957, e fez 3 gols.
Abraços Adalberto Day cientista social e pesquisador da história

Airton Leitão disse...

Esta história faz lembrar aquele episódio de Pelé e o falecido Fontana, quando o Rei fez dois gols empatando um jogo que o Vasco vencia folgadamente por 2 a 0. Pelé foi desafiado e debochado por Fontana, que perguntava aos companheiros onde estava o Rei. Dizem que Pelé, depois do segundo gol mandou Fontana dar lembranças do Rei para mãe dele.
Boa história sua, Valdir,

Valdir Appel disse...

Osvaldo,
Já estou adquirindo cultura com o seu blog. Abraço.

Adalberto,
Obrigado pelos comentarios.

Airton,
Esta historia do Fontana eu conheço bem.
O gostoso é que ela muda ano apos ano.... o dialogo entre o Rei e o desafiante.
Um dia eu conto a minha versão.
Abraço.

Gilberto disse...

OLÁ VALDIR , SOU O VITORIA AGUAS ( GILBERTO LARCIPRETE ) EU ERA MUITO JOVEM E JOGAMOS JUNTOS EM 1974 / 1975 NO VOLTA REDONDA . FIZ MUITOS GOLS EM VC DE FORA DA AREA LEMBRA-SE . EU ERA UM MENINO NO MEIO DE UM MONTE DE JOGADORES MAIS VELHOS . RECEBO SUAS MENSAGENS COM MUITA SATISFAÇÃO SEMANALMENTE . LEIO TODOS COM MUITA ALEGRIA . FAVOR
MANDAR A PARTIR DE AGORA PRA ESSE EMAIL gilbertolarciprete@yahoo.com.br
ABRAÇÃO

Valdir Appel disse...

Então era voce, Gilberto!
Eu sabia que tinha um responsavel pelas minhas dores nas costas de tanto buscar bolas no fundo das redes.
Abraço,
Valdir

Mauro disse...

Sobre o Pele' nao vou fazer comentarios, pois nao precisa, mas sobre o Claudio Garcia... O Vasco o contratou antes do Campeonato Brasileiro de 1986. Depois de seis partidas, o Vasco acumulava exatamente um ponto e zero gols a favor, e ia rumo `a desclassificacao prematura na primeira fase e um provavel rebaixamento. Entre as mancadas do treinador, ficou famosa a de botar o Romario no banco e recomendar a contratacao do atacante Tuico (o famoso "Quem?") para o seu lugar. Ficando ai' explicados os zero gols a favor. Felizmente demitiram o treinador antes que fosse tarde demais e contrataram o nosso magico Joel Santana, que conseguiu safar o time.