quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Quinzim

O zagueiro Moacir, do Vasco, divertia os colegas com suas piadas e, principalmente, com seus causos, contados com o seu autêntico sotaque de mineiro do interior.
No trajeto de São Januário para a concentração, no Hotel das Paineiras, todos faziam silêncio para rir dos seus relatos. Curiosamente, o que durava em torno de 10 minutos era o preferido e, mesmo repetido diversas vezes a pedido dos jogadores, sempre ríamos como se fosse a primeira vez.
Em sua história, as pequenas e vizinhas cidades mineiras de Ubá e Tocantins haviam interrompido seus confrontos futebolísticos durante 20 anos por causa de um tumulto generalizado no último jogo realizado entre as equipes do Itararé Futebol Clube e do Estrela de Minas Futebol Clube.
Um ponta esquerda de nome Quinzim, nascido em Ubá, varou fronteiras com a sua fama de grande jogador, despertando o interesse da população vizinha, que também queria ver de perto o fenômeno.
Assim, o antigo ódio foi sepultado e um jogo foi marcado entre os antigos rivais. À medida que o dia do encontro se aproximava, a tensão subia na cidade anfitriã.
Domingo pela manhã, o pároco fez sermão sobre a importância do jogo, exaltando as qualidades do goleador "Quinzim Ponta Esquerda". Pediu a todos que prestigiassem o evento que seria um jogo de "vida ou morte". Após a missa, o padre e seus fiéis foram para a pracinha aguardar a chegada do adversário. Quando a jardineira abriu a porta e os jogadores do Estrela de Minas começaram a descer, um cidadão – que já conhecia o ponta, gritou:
“É aquele baixinho de camisa cor de abróba!”.
Na hora do almoço, o prefeito municipal foi até a pensão de Dona Filó alertar aos jogadores para o perigo que representava o "Quinzim Ponta Esquerda" em relação à invencibilidade do time da casa, com um pedido:
“Não o deixem pegar na bola!”.
Pois bem, no horário marcado o estádio estava lotado e os dois times perfilados. O treinador do time da casa aproximou-se dos seus jogadores para uma última recomendação:
“O Quinzim é aquele baixinho, com a camisa 11. Ele não pode jogá, senão nóis tá funicado! Vamo com Deusu!”
Ao apito inicial do juiz, todos partiram pra cima do ponta esquerda, dando-lhe chutes e pontapés, com a ajuda de torcedores que invadiram o campo, armados de porretes, causando-lhe fraturas e traumatismo craniano.
Hospitalizaram o pobre coitado. Quinzim nunca mais jogou futebol, e o jogo (até hoje!) não aconteceu.

O apelido
Na infância, Moacir Eustáquio costumava resolver suas desavenças riscando o chão com graveto, e desafiando o inimigo a atravessar o risco pra levar porrada. Um dia, encontrou um guri mais arretado, que rangia os dentes e fechava os punhos ameaçadores pro Moacir, dizendo:
“Sê bôbo, sô! Cê num mi güenta, não! O Nica, qué o Nica, num güentô! Güentô argum?”.
De tanto o Moacir contar a história com seu sotaque mineiro, o apelido Nica pegou nele!

-Beneti, Valdir, Moacir, Ferreira, Élcio e Eberval aguardando o show do Chico Anísio.

Nota: recorte do Jornal enviado por Mauro Prais

2 comentários:

Adalberto Day disse...

Valdir
Logo o Moacir era piadista. Campeão pelo Vasco em 1970 - não era aquelas coisas. Grande Nica, deveria ter sido humorista. Elle era freqüentador do Chico Anizio. Mas a do Quinzim foi de matar.
Bela crônica, belo "Causo" ou é caso....
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história.

Mauro disse...

Nada melhor para "desopilar o figo" do que recordar as historias do nosso zagueirao campeao de 1970. Acho que ele caprichava na comedia para compensar os momentos de terror que tinha que passar tendo o Rene como companheiro de zaga. Esse dava mais susto do que filme do Hitchcock.

Um abraco,

Mauro