sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A viagem


Ituporanga
Por Valdir Appel
Nos anos 40, chegar a uma cidade vizinha, por mais próxima que fosse, era um desafio e tanto. Transportes precários, os famosos queixos-duros, estradas ruins de chão batido, muitas curvas e muito pó.
Assim todos os meios eram utilizados para chegar a um destino.
Os craques paysanduenses embarcaram no ônibus do Expresso Brusquense, sábado à tarde, para Blumenau, primeira etapa de uma viagem com destino a Ituporanga, onde realizariam uma partida amistosa.
Da terra do chope e do apfelstrudel, seguiram de trem até Rio do Sul.
No desembarque uma surpresa. O ônibus fretado para leva-los até Ituporanga não apareceu.
Enquanto o chefe da delegação discutia as possibilidades de seguir viagem, e buscava desculpas para o contratempo, o atacante esmeraldino Wilimar Ristow “descobriu” próximo da estação, um caminhão carregado de caixas de cerveja, que ia exatamente para Ituporanga.
Não havia muito tempo para discussões e todos concordaram que a solução era embarcar no caminhão.
Ninguém se fez de rogado. Uns puxaram os outros pra riba do veículo, e por caminhos tortuosos, balançantes e esburacados, partiram rumo a Capital Nacional da Cebola.
No trajeto os jogadores sentiram sede.
E a solução estava bem ali, debaixo de suas nádegas, dentro dos engradados.
As tampinhas das garrafas foram pressionadas contra a lateral das caixas, liberando a cerveja quente que saltava espumando para as bocas gulosas dos craques.
Só não tiveram o cuidado de fechar novamente as garrafas e coloca-las nos engradados. Simplesmente jogaram os vasilhames vazios para a beira da estrada.
Em Ituporanga, o motorista alemão fez as contas:
“Null, eins, zwei, drei, vier, fünf.......
Para descontentamento do diretor, chefe da comitiva, que teve de desembolsar uma graninha extra pra cobrir o prejuízo.
Domingo, refeitos da viagem e do excesso de “bias”, o time apresentou um belo futebol.
O estádio municipal foi inaugurado e a equipe brusquense aplicou um clássico 3 a 1 na seleção amadora local.
À noite os jogadores participaram de um baile comemorativo, oferecido pelos anfitriões.
Na volta pra casa não houve contratempos.

Fotos de Érico Zendrom: 1-ônibus do Expresso Brusquense 2-Paysandú entrando em campo para mais uma exibição.

4 comentários:

Adalberto Day disse...

Valdir Appel
Nosso eterno Chiquinho
Realmente já foi muito complicado chegar a qualquer cidade catarinense. Hoje podemos dizer que é uma beleza.

Ituporanga terra da apfelstrudel, realmente já provamos algumas vezes e é uma delicia.
Essa do ônibus não aparecer tem muitas histórias...todo clube vai saber contar uma., e arrumar uma caminhão, eu já passei por isso...
Uma bela história e depois de tantos problemas a vitória por 3x1.
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau

Luis Silva disse...

Ola Valdir, continuo acompanhando seu blog, e continua muito interessante. Deixa eu tirar umas duvidas contigo:

Naquela época (anos 60), como era feita a distribuição das camisas aos jogadores ? Uma camisa era usada toda o ano ? ou tinha algumas unidades por atleta ? a camisa pertencia ao jogador ou ao clube ? qual a marca daquela camisa que você guardou do sport, Athleta ?

Abraço

Unknown disse...

Luis, é um ótimo tema para ser abordado. Minha camisa no Sport era uma Hering, abraço

Ricardo disse...

Amigo Xico, meu nobre Defensor, parabéns pelo texto.
Sempre uma viagem no tempo. E este, particularmente, corrobora a impressão de que, quanto maiores as dificuldades por que passava, maior era a força do Paysandú, "O Mais Querido" da Pedro Werner. Tempos difíceis, mas, certamente, mais divertidos e emocionantes. Para não esquecer! Por isto, todos haverão de saber. Abraço.