História do Futebol em Brusque
Por Carlos
Eduardo Michel
Professor
de História
O início do
século XX foi um tempo onde Brusque sentiu a modernidade. A energia
elétrica e tudo aquilo que seria movido com ela contribui para que o
brusquense, principalmente aqueles que moravam na região central da
cidade, sentissem a vanguarda da época. Mas a modernidade não se
manifestou apenas na tecnologia, o gosto pelo esporte também modificou.
Podemos observar na cidade, a partir de 1913, o surgimento de alguns
clubes que tinham como objetivo praticar uma modalidade de origem
britânica que recém havia chegado ao Brasil (por volta de 1900 surgem os
primeiros clubes para sua prática em São Paulo e em outros estados).
Esse novo esporte era o futebol.
O clube
pioneiro em Brusque na prática futebolística foi o Sport Club
Brusquense. Ele surge através da iniciativa de Arthur Olinger1.
Olinger, com a
idade de 20 anos, foi até a cidade de Novo Hamburgo, no Rio Grande do
Sul, com a intenção de aperfeiçoar sua prática na confecção de artigos
de couro e no processo de curtição do material. Naquela cidade o jovem
brusquense conhece e se apaixona pelo futebol. Seu gosto pelo esporte é
tanto que consegue entrar para os quadros do “Sport-Club Novo Hamburgo”
atuando na equipe secundária do clube.
Apesar do entusiasmo de Arthur, seu estágio na firma “Pedro Adams Filho”,
que lhe ensinava as lides do couro, havia terminado. Era preciso regressar a
Brusque e se despedir do Sport-Club Novo Hamburgo, como também dos amigos. O
brusquense se despede do clube, mas não do futebol. Em sua bagagem carrega uma
bola de couro além de outros equipamentos. No fim de maio de 1913 o jovem chega
de viagem e juntamente com seu amigo Guilherme Diegoli, apresenta o novo
esporte aos brusquenses. Aos poucos a dupla vai conseguindo novos adeptos, e não demorou muito para formarem um time.
Em setembro, nas comemorações da independência do Brasil, o Schützenverein Brusque
organiza uma programação especial. Entre as atividades daquele dia
estava marcada a partida de estreia do novo esporte. A praça em frente a
sede do clube, que estava lotada, é esvaziada. O público acomoda-se às
suas margens, todos estão curiosos para saber o que se passaria ali, a
maioria jamais havia escutado falar em futebol. Após alguns momentos de
espera, os jogadores uniformizados entram no “campo” que se formou.
Camisas e calças brancas, os mais abonados possuíam sapatos adaptados, o
restante se apresentava descalço. O entusiasmo era evidente no rosto
daqueles jovens, todos estavam orgulhosos por apresentar para a cidade o
esporte que já havia conquistado vários praticantes no Brasil inteiro.
A partida, ou o “match”,
como era nomeada na época, se inicia. Os primeiros chutes provocam
estranhamento no público, aos poucos o que lhes parecia uma corrida
desenfreada atrás da bola de couro passa a ter sentido. Quando os
jogadores conseguem pela primeira vez driblar a defesa e fazer a bola
passar por dentro da trave, sua vibração contagia a todos, fazendo com
que o objetivo do esporte passe a ser claramente entendido pelos
espectadores: o gol.
Ao final da
disputa o entusiasmo é tanto que surge a ideia de se fundar um clube
para a prática do esporte na cidade. Uma reunião para o próximo domingo é
agendada no salão do Hotel de Shoenen Wilhelm. Desse modo em 14 de
setembro de 1913 está fundado o Sport-Club Brusquense.
O esporte ganha
popularidade na cidade, tanto é que os jornais da época passam a
acompanhar todos os passos de seu desenvolvimento. Logo partidas com
clubes de cidades vizinhas eram marcadas, e também em Brusque surgem
adversários para o Sport-Club Brusquense, como é o caso do Esporte Clube
Peterstrasse ou Sport-Verein Peterstrasse (Localizado na Rua São Pedro, fundado em 1915) e o Clube Esportivo Paysandu (fundado em 30 de Dezembro de 1918).
Com o tempo a
rivalidade entre os clubes cresce, principalmente entre o Brusquense e o
Paysandu, transformando cada partida em um verdadeiro clássico. Todas
as disputas eram relatadas nos jornais brusquenses demonstrando o
interesse que os torcedores tinham para com o futebol. Os dois times
conseguem projeção estadual conquistando vários títulos nos campeonatos
disputados.
Conforme os clubes alcançam sucesso suas sedes vão sendo melhoradas e ampliadas. Após anos utilizando o campo de futebol da Turnverein Brusque, em 1931 é inaugurado o estádio “Augusto Bauer”, campo do Sport-Club Brusquense2.
Bauer fora o presidente do clube e era dono do terreno onde o estádio
foi implementado, vendendo o mesmo para o clube sob condições especiais.
Em 1940 o clube
funda sua sede social, a metade do valor da nova construção foi doada
pelo industrial Cônsul Carlos Renaux, o restante fora arrecadado numa
intensa campanha feita pela agremiação. Em 1944 uma determinação federal
obrigava aos clubes adotarem nomes que fizessem referência à pátria
brasileira. Devemos lembrar que aqueles eram tempos da Segunda Guerra
Mundial e de uma política de nacionalização muito forte por parte do
governo Getúlio Vargas. Em assembléia geral o clube decide adotar do
nome de seu bem-feitor, Cônsul Carlos Renaux, passando então a
denominar-se Clube Atlético Carlos Renaux. Popularmente, o nome do clube
sofre uma aglutinação muito particular por parte dos brusquenses, sendo
conhecido apenas ccomo “Carrenô”.
Já o maior
rival do “Carrenô”, tem seu estádio inaugurado alguns anos antes, em
1924. Antônio Maluche vendeu seu terreno ao clube em condições
especiais. Em 1943, como havia feito com o Sport-Club Brusquense, o
Cônsul Carlos Renaux doa uma quantia de dinheiro ao clube Paysandú, o
que proporciona o início da construção da sede social do clube que vai
ser terminada apenas em 1949. Sua inauguração foi motivo para uma festa
que durou de 12 até 15 de Novembro daquele ano.
As sedes
sociais dos clubes eram muito importantes, pois a atividade deles não
limitavam-se apenas aos esportes. Grandes bailes, festas e comemorações
eram feitas, além de apresentações musicais e teatrais. Com suas sedes
os clubes não precisariam mais alugar salões para realizarem seus
eventos, desse modo além de economizar, era estabelecida uma relação de
identidade e pertencimento entre os associados e suas agremiações. Entre
os bailes mais concorridos realizados pelos dois clubes, estavam os
bailes de carnaval.
Os dois clubes
ganham tanta popularidade na cidade que com o passar do tempo, mesmo as
pessoas que não fossem associadas, ou torciam para o Paysandú, ou Carlos
Renaux. A rivalidade dura até 12 de outubro de 1987, quando os dois
clubes fundem seus patrimônios e dão origem ao Brusque Futebol Clube.
Este novo time assume a posição do extinto Paysandú no campeonato
catarinense e tem no Estádio Augusto Bauer o mando de seus jogos3. O novo clube alcança sucesso conquistando vários títulos, o principal deles, é o campeonato catarinense de 1992.
Recentemente a
fusão é encerrada, os dois clubes voltam a ter vida própria. O Carlos
Renaux tvolta a suas atividades, o estádio Augusto Bauer é pintado com
as cores oficiais do clube: vermelho, azul e branco. Apesar disto o time
de futebol que joga em suas dependências ainda é o Brusque Futebol
Clube, que aluga o campo para a realização de suas partidas.
O Paysandu tem
sua sede social reformada, as cores verde e branco e o letreiro com o
nome do clube voltam a ornar o prédio da rua Pedro Werner. Nas
dependências do clube o famoso baile de carnaval que agitou Brusque por
tantos anos no passado volta a ser editado. O Paysandu, assim como o
Carlos Renaux, não possui um time profissional de futebol, entretanto,
mantém um trabalho intenso com categorias de base.
Seria isto o
presságio de um retorno as origens do futebol brusquense? Esta é uma
pergunta que infelizmente a história não pode responder....
(Plantel do Clube Esportivo Paysandu - Década de 1920)
(Trecho do
Capítulo "Sereno Gostoso que não volta mais": Sociabilidades no início
do século XX. Tal texto faz parte do projeto Brusque 150 anos)
1Este
capítulo é embasado na obra de Ayres Gevaerd: As sociedades
Esportivas, Recreativas, Culturais, Beneficentes, de Classe e Militares
de Brusque. Editado pela Sociedade Amigos de Brusque.
2 A arquibancada data de 1952 e o alambrado que cerca o campo de 1953
3História do Brusque Futebol Clube. Disponível em: acesso em 01/06/2010.
2 comentários:
Que bom que você gostou do Texto, Valdir.
Ele é apenas uma pequena parte de um artigo que trata da vida social e cultural em brusque no início do século XX. Este artigo está em um livro que deve ser lançado pela fundação cultural até agosto.
Grande abraço e parabéns pelo blog.
Carlos
www.feitodehistoria.blogspot.com
Carlos, apenas alguns detalhes para enriquecer mais o texto.
1) A "fusão" entre CACR e PAYSANDU nunca envolveu os patrimônios, apenas futebol.
2) A "fusão" não encerrou tão recentemente. Este ano comemora-se 15 anos do fim da mesma (1997).
3) A "fusão" é considerada pelas diretorias de CACR e PAYSANDU como o "maior erro já cometido pelos dois clubes em toda a história".
4) A dita "fusão" ocorreu por motivos políticos, o que acabou contribuindo para sua deterioração e consequente término poucos anos após o título de 1992.
Abraços
Eduardo Loos
CACR
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