Por Lucídio José de Oliveira
Tinha a idade dos meus netos, entre dez e 15 anos, quando comecei a me enamorar pela seleção brasileira. Anos 40. Estávamos, os de minha geração, deixando para trás as lembranças da Copa de 38, realizada na França. Começavam a esmaecer no fundo do coração as imagens dos nossos sonhos juvenis. Caminhávamos confiantes em direção a um futuro de glórias. A esperança com endereço certo, nome de rua, número e CEP bem anotados, seguros e decorados: Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro, Brasil. Ano de 1950.
Os astros de 38, conhecidos de jornais e páginas coloridas de revistas, Domingos, Leônidas, Tim e Patesko, Perácio e Hércules, Romeu, Batatais, Martins e Nariz eram agora nomes do passado. Em seu lugar, em tempo de Copas Rocas, Sul-Americanos e Taças Rio Branco, nossa torcida era toda para os craques que faziam a alegria das tardes e noites do dia a dia dos meninos do meu tempo: Zizinho, Ademir, Heleno de Freitas, Jair Rosa Pinto, Barbosa, Danilo, Bauer e tantos mais.
Perdemos porém dolorosamente a nossa Copa. Coisas do futebol. Mas vieram logo a seguir Pelé, Vavá, Garrincha, Zito, Nílton e Djalma Santos, Gilmar, Belini, Mauro e Zózimo, Zagallo e Amarildo para remir e compensar com altos juros tamanha provação. E na esteira dos bons ventos, ainda Pelé puxando o fio da pipa de nossas alegrias, Rivelino, Tostão, Gerson, Clodoaldo, Jairzinho, Piaza, Everaldo, Paulo César Caju, fazendo luzir o amarelo da camisa sob o sol escaldante do meio-dia, no planalto asteca em gramados do México. O Tri era a glória maior!
Vieram, um tempo depois, para dar continuidade à saga canarinha rumo ao penta, Tafarel, Mauro Santos, Dunga, Romário e Bebeto. De outro leva, Rivaldo, São Marcos, Lúcio, Ronaldo e Ronaldinho, Cafu e Roberto Carlos. Mas aí eu já não era mais menino...
Foi quando aconteceu a reviravolta. A Seleção deixou de ser brasileira. O jogador para ser convocado precisa jogar no exterior distante. Turguia, Alemanha, Holanda, Inglaterra, até na Rússia fria e distante. Espanha e Itália só, não bastam. Que se chamem Afonso e Felipe. Que tenham nomes de reis. Europeus. Não morro mais de amores por minha seleção. Ela hoje tem outros donos.
Mas vou torcer como um louco, se bem que à distância pela TV, neste jogo do Arruda contra o Paraguai. Tenho razões de sobra para voltar a torcer pela Seleção. Não porque o jogo está sendo realizado em terras pernambucanas. Nada disso. É que, pelo milagre da continuidade do tempo e transmissão atávica de sentimentos insubstituíveis, estarei com a alma e o coração de torcedor no Arruda, junto aos meus netos que lá estarão, pela primeira vez assistindo ao vivo a uma vitória da nossa eterna e querida Canarinho. Que saiam do jogo cantando vitória. Aqui do meu cantinho, na poltrona em frente ao televisor, estarei, pensando neles, batendo palmas por Kaká, Alexandre Pato, Nilmar, Robinho, Júlio César e companhia. Quem sabe não seja esse o momento sagrado da minha reconciliação com a Canarinha de minha vida?
Tinha a idade dos meus netos, entre dez e 15 anos, quando comecei a me enamorar pela seleção brasileira. Anos 40. Estávamos, os de minha geração, deixando para trás as lembranças da Copa de 38, realizada na França. Começavam a esmaecer no fundo do coração as imagens dos nossos sonhos juvenis. Caminhávamos confiantes em direção a um futuro de glórias. A esperança com endereço certo, nome de rua, número e CEP bem anotados, seguros e decorados: Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro, Brasil. Ano de 1950.
Os astros de 38, conhecidos de jornais e páginas coloridas de revistas, Domingos, Leônidas, Tim e Patesko, Perácio e Hércules, Romeu, Batatais, Martins e Nariz eram agora nomes do passado. Em seu lugar, em tempo de Copas Rocas, Sul-Americanos e Taças Rio Branco, nossa torcida era toda para os craques que faziam a alegria das tardes e noites do dia a dia dos meninos do meu tempo: Zizinho, Ademir, Heleno de Freitas, Jair Rosa Pinto, Barbosa, Danilo, Bauer e tantos mais.
Perdemos porém dolorosamente a nossa Copa. Coisas do futebol. Mas vieram logo a seguir Pelé, Vavá, Garrincha, Zito, Nílton e Djalma Santos, Gilmar, Belini, Mauro e Zózimo, Zagallo e Amarildo para remir e compensar com altos juros tamanha provação. E na esteira dos bons ventos, ainda Pelé puxando o fio da pipa de nossas alegrias, Rivelino, Tostão, Gerson, Clodoaldo, Jairzinho, Piaza, Everaldo, Paulo César Caju, fazendo luzir o amarelo da camisa sob o sol escaldante do meio-dia, no planalto asteca em gramados do México. O Tri era a glória maior!
Vieram, um tempo depois, para dar continuidade à saga canarinha rumo ao penta, Tafarel, Mauro Santos, Dunga, Romário e Bebeto. De outro leva, Rivaldo, São Marcos, Lúcio, Ronaldo e Ronaldinho, Cafu e Roberto Carlos. Mas aí eu já não era mais menino...
Foi quando aconteceu a reviravolta. A Seleção deixou de ser brasileira. O jogador para ser convocado precisa jogar no exterior distante. Turguia, Alemanha, Holanda, Inglaterra, até na Rússia fria e distante. Espanha e Itália só, não bastam. Que se chamem Afonso e Felipe. Que tenham nomes de reis. Europeus. Não morro mais de amores por minha seleção. Ela hoje tem outros donos.
Mas vou torcer como um louco, se bem que à distância pela TV, neste jogo do Arruda contra o Paraguai. Tenho razões de sobra para voltar a torcer pela Seleção. Não porque o jogo está sendo realizado em terras pernambucanas. Nada disso. É que, pelo milagre da continuidade do tempo e transmissão atávica de sentimentos insubstituíveis, estarei com a alma e o coração de torcedor no Arruda, junto aos meus netos que lá estarão, pela primeira vez assistindo ao vivo a uma vitória da nossa eterna e querida Canarinho. Que saiam do jogo cantando vitória. Aqui do meu cantinho, na poltrona em frente ao televisor, estarei, pensando neles, batendo palmas por Kaká, Alexandre Pato, Nilmar, Robinho, Júlio César e companhia. Quem sabe não seja esse o momento sagrado da minha reconciliação com a Canarinha de minha vida?
(Foto: Nilton Santos, Gilmar e Beline, 1958)
9 comentários:
Valdir
O texto do Lucídio é espetacular. Ele cita o jogador Patesko, que foi um jogador do Botafogo, em nossos registros aqui em Blumenau e no Amazonas, ele atuou algumas partidas pelo clube do Garcia nos anos 30. O pai do Patesko trabalhava como técnico na EIG e seu filho passou uns tempos por aqui, onde teria feito alguns jogos pelo clube anilado. Os outros todos jogadores citados merecem todo nosso carinho...e os de hoje...em os de hoje deixa quieto. Chiquinho mas o que me chamou atenção ao lado direito na coluna do blog foi este trio fantástico do belo futebol, Píndaro, Castilho e Pinheiro, e com essa eu fico por aqui...bons demais.
Abraço Adalberto Day de Blumenau cientista social e pesquisador.
Beto,
Excelentes comentários. Tambem desconhecia a passagem do Patesko por estas bandas. Grato.
VALDIR,
INFELIZMENTE NÃO FAREI O MESMO. FICAREI EM CASA, VENDO PELA TV (MENOS GLOBO, CLARO, UMA DAS DONAS DA SELEÇÃO). ESPN, SEM
AQUELA BABOSEIRA GLOBAL INSUPORTÁVEL. A OUTRA DONA, A CBF, ENTREGOU HÁ MUITO TEMPO NOSSO TIME AOS EMPRESÁRIOS, POLITICOS,
PRESIDENTES DE FEDERAÇÕES. TODO MUNDO TIRA UMA CASQUINHA. E O POVO, QUE DEVERIA SER O DONO DA SELEÇÃO, É QUEM MANOS MANDA,
OU MELHOR, NÃO MANDA NADA. É TRATADO COMO GADO E OBRIGADO A VER JOGADORES INEXPRESSIVOS, MEDIOCRES, ATÉ, COM A GLORIOSA
CAMISA AMARELA. "QUERO MINHA SELEÇÃO DE VOLTA" É O LEMA QUE ADOTEI POR AQUI. TENHO ESCRITO E DITO ISSO TANTAS VEZES QUANTAS
FOREM NECESSÁRIAS. SE NÃO, VOU CONTINUAR TORCENDO PELO REAL MADRID.
GRANDE ABRAÇO
IATA ANDERSON (por e-mail)
Iata,
Obrigado pelo seu comentario. Concordo em genero, numero e....
Abraço
Valdir
Valdir,
Que texto bem escrito.
Tbm sou saudosista, e da mesma forma que o seu veterano amigo, estranhei muita a convocação dos "Afonsos" da vida, e igualmente a ele admiro muito os "Nilmares" que o futebol brasileiro nunca vai deixar de produzir.
Espalhei para minha lista.
Pbns.
Abração.
Saudações vascaínas.
Antonio Estevam Neiva(por e-mail)
Obrigado pelo comentario Antonio. Realmente o Lucidio é ótimo. Abraço, Valdir
O texto está perfeito, mas hoje eu perdi o tesão de torcer para a seleção, sem demagogia, hoje não consigo mais, em Copa eu sofro muito pois cada ataque do brasil eu torço contra não só pelo romantismo que já não existe, mas também ems aber que a unica coisa pura na seleção brasileira hoje são seus torcedores, mas mudando de assunto Valdir, pois odeio a seleção, quem faleceu recentemente e que residia em fortaleza que foi campeão estadual pelo America, Abc e alecrim foi o zagueirão Lucio Sabiá, estou informando pois talves ele tenha jogado contigo na epoca da tua passagem aqui pelo Rn, um forte abraço, Genildo Oliveira/Mossoró Rn
Genildo,
Conheço o teu desamor pela canarinho. E respeito. Quanto ao Lucio Sabia eu lamento mais esta perda. Que Deus o tenha.
Estou muito preocupado com o nosso Bruxa Marinho. Fiquei impressionado com o depoimento que ele deu esta semana.Abraço
Caro amigo Valdir;
Excelente esta crónica sobre a seleção e os amores e desamores que ela desperta no povo...
Normal que a seleção sempre acarretou paixões com as vitórias e por vezes ódios quando perde.
Sigo a seleção depois da Copa de 62mas o auge da mesma a todos os niveis, Técnico/espetáculo foi sem dúvida a da Copa de 70 no México e ainda hoje seria impossivel para não importa qual treinador, compor um time como aquele...
Um abraço amigo Valdir.
Osvaldo
Mau saudoso pai sabia de cor as escalações dos titulares e reservas da Seleção da copa de 38. De minha parte, sei até hoje os nomes completos dos 22 jogadores da Copa de 58.
Hoje, consigo torcer pela camisa e por alguns jogadores. Não consigo torcer contra nossa Seleção. Mas tem gente faltando ali. E dunga tem dado sorte.
Fazer o quê?
Airton,
Acredito que esta falta de unanimidade com respeito a nossa seleção, iniciou com as convocações políticas. A mais branda foi a do Dario em 70. De lá pra tivemos até Afonsos (ou Alonsos, sei lá!), aí nimguém aguenta.
Abraço
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