O menestrel
O Vasco embarcou com destino a Fortaleza. A estreia no campeonato brasileiro seria domingo, no Estádio Presidente Vargas, contra o Ceará, o Vovô das terras de Iracema. Ficamos hospedados num excelente hotel do centro da cidade.
Sábado pela manhã, cumprimos a agenda tradicional realizando um racha descontraído. No almoço frugal e manjado foi servido o prato boleiro: bife, arroz, salada e purê de batata, água mineral e gelatina prá não engordar. Á tarde, como era de se esperar, a maioria fez a sesta. Quem não estirou o esqueleto, circulou pelos arredores do hotel.
O menestrel Juca Chaves era o hóspede mais famoso do hotel. Naquela noite estrearia seu show, que fez sucesso em todos os cantos do país. Fã de futebol – até mesmo do Corinthians, segundo ele - fez um convite aos jogadores vascaínos para curtirem a sua premiére.
O técnico Paulo Amaral liberou quem quisesse ir, desde que acompanhado pelo nosso médico, o doutor Arnaldo Santiago.
Assim: Arnaldo, Buglê, Andrada, Afonsinho e eu fomos a estreia do Juca.
O Teatro José de Alencar, situado na praça de mesmo nome - hoje tombado pelo patrimônio histórico - atrai qualquer cidadão que tenha um pouquinho de sensibilidade para a beleza da sua fachada, seus vitrais coloridos, o jardim do arquiteto Burle Marx e o salão principal com quatro andares.
Sentamos nas últimas filas do quase lotado teatro. À nossa frente, uma senhora ladeada por duas jovens, presumíveis filhas.
O carioca Juca desfilou seu repertório de piadas e o público correspondeu com risos e aplausos. Ao cantar uma de suas célebres modinhas políticas, contagiou e incitou a todos a acompanhá-lo. Após um trecho cantado em conjunto com a plateia, Juca desafiou:
“Agora... só as virgens!!!”
Imediatamente a senhora à nossa frente olhou rápido para as duas filhas para ver se elas cantavam o refrão.
Tivemos que conter o riso.
No dia seguinte, após o café da manhã, ouvimos rumores no saguão do hotel de que o Juca havia armado o maior barraco na recepção do hotel. Os relatos dos mensageiros davam conta de que Juca chegou na madrugada acompanhado por três violões: o clássico de seis cordas e dois de saias rodadas.
O recepcionista quis coibir a entrada dos dois últimos. Justificou dizendo que aquele era um hotel tradicional, severo, com normas e blá-blás.
Juca resolveu o problema afirmando que tinha autorização para entrar no hotel acompanhado de quem ele quisesse, e desafiou o confuso rapaz a ligar para o seu gerente.
Devido ao adiantado da hora e temeroso de que podia sobrar pra ele, o jovem liberou a entrada do músico e seus acompanhantes.
Juca subiu de elevador, calçando suas humildes sandálias e muito bem acompanhado.
Vasco 0x0 Ceará (CE)
Domingo, 8 de agosto de 1971 - Local: Presidente Vargas, Fortaleza(CE)Público: Não informado - Renda: Cr$ 133.000,00 Árbitro: Oscar Scolfaro (SP) Vasco: Andrada, Haroldo, Miguel, Moisés, Alfinete, Afonsinho, Buglê (Dé), Nenê (Luís Carlos), Alcir, Ferreti e Rodrigues. Técnico: Paulo Amaral Ceará: Pedrinho, Carlos Alberto, Cruz, Nage, Carlindo, Luciano, Edmar (Carrete) (Chiclete), Gildo, Vitor, Magela, Da Costa. Técnico: Marinho Rodrigues.
2 comentários:
Valdir
Então o Vasco esteve nas terras de Iracema "Eu nunca mais eu te Vi"
O Vasco caiu nas graças do grande Juca Chaves, ou foram os jogadores. O Juca caiu é nas graças das ex virgens.
Os três violões: o clássico de seis cordas e dois de saias rodada, que fase do Juca e ainda desafiava a platéia. Mas que elas foram fieis, foram e não mentiram....nem para a mãe e nem para o Juca.
Bela postagem, e nesta vez não foram vocês os "C", mas sim o cantor e humorista...
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história.
Caro Valdir, bom dia!
Mais uma boa e divertida história!
Figuraça o Juca Chaves!
"Agora... só as virgens!!!" rsrs ... tinha que ser ele!
Abraço e bom domingo!
Ricardo Antônio
Campos/RJ
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