O goleiro da faixa roxa
Passou-se no Rio de Janeiro, em 1914, no Rio de Janeiro, estádio das Laranjeiras. Jogo atrasado, público elegante – homens com chapéus palheta na cabeça e ternos bem talhados, senhoras com chapéus vistosos e vestidos às vezes longos – começava a se impacientar.
No vestiário do Fluminense, uma discussão interminável. “Como é que vocês querem jogar sem goleiro? É melhor cancelar a partida do que dar vexame!” O adversário do Flu se perdeu no tempo, mas o argumento de que cancelar seria um desastre por causa do tumulto que geraria, terminou prevalecendo.Foi quando alguém disse:
“Acho que vi Marcos na social. Será que ele não toparia jogar?”
“Marcos é goleiro do América, não vai querer…” .
“Não, parece que ele saiu do América. Brigou com o presidente”.
Um dos dirigentes do Pó de Arroz saiu pela porta do vestiário debaixo de palmas dos torcedores, que achavam que “finalmente” o time ia entrar em campo. Avistou Marcos Carneiro de Mendonça, e fez o convite:
”Marcos, quer jogar pelo Fluminense?”
“Quando?” – gritou lá de cima da social, o goleiro de 1,87 metro, 19 anos, boa pinta.
”Agora, estamos sem goleiro”.
“Estou sem uniforme, não vai dar.”
O público da social começou a gritar:
“ Vai, sim! Vai, sim!”
“A gente te dá um uniforme” – gritou o dirigente, cujo nome a história não registra. Alguns dizem que foi o capitão do time, Walfare.
Marcos pulou a cerca que separava a social da pista de atletismo e entrou no vestiário sob aplausos . Alguns minutos depois ressurgiu com o time, segurando o calção com as mãos para que não caísse. Viu uma moça logo na primeira fila da social com uma fita roxa no chapéu, e perguntou:
“Será que a senhorita me emprestaria essa sua faixa para que eu possa prender o meu calção? Devolvo depois do jogo!”.
Toda feliz a mocinha cedeu a faixa. A partir desse jogo, Marcos Carneiro de Mendonça passou a jogar com uma faixa roxa prendendo o calção. Jogou por 9 anos no Fluminense.Foi tricampeão carioca em 1917/18 e 19. Antes disso tinha sido campeão pelo América, em 1913, com 14 anos de idade. Dizem que ele defendia o gol do Fluminense com um uniforme todo branco, que nunca sujou, devido à sua colocação perfeita.
NA FOTO, o goleiro Marcos Mendonça, com sua célebre faixa roxa, entre os zagueiros Vidal e Chico Neto, do Fluminense
6 comentários:
Parabéns Valdir, por essas históricas! O Público agradece.
Sds vascaínas.
Marcio
Digo histórias....
Bom dia!!!
Achei bem legal seu blog, meus parabénss
Natália Bohn
Valdir
Grande goleiro tricolor Marcos Mendonça.
Sempre vistoso o acanhado estádio do Fluminense, que na época era maior do que agora, chegou a sediar jogos da seleção. Mas devido a infra-estrutura na rodovia, perdeu terreno, desfilavam por eles a elite mais os elegantes cidadãos do Rio de Janeiro. O Estádio das laranjeiras, que já não cai mais pela redondeza.
Que história maravilhosa, faixa roxa, mocinha assanhada, goleiro espetacular que se tornou Mendonça. Como a vida é cheia de surpresas.
Parabéns Valdir pela bela postagem
do texto de Michel Lawurence
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história.
Mestre, acho que Marcos Mendonça era um Appel disfarçado em terras cariocas!
Amigo Xico
Matei a saudade vendo tantos craques do passado.
Dilton
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