sábado, 26 de abril de 2014

Dia do Goleiro




































Manguita "O Fenômeno"

As faixas
Quando Ely do Amparo confirmou a minha escalação para o jogo contra o Botafogo, em São Januário, fiz um pedido ao técnico:
“O senhor me deixa chegar mais cedo ao estádio para receber a faixa de campeão de aspirantes?”
Pedido este que causou muitas risadas entre os colegas:
“Qual é Valdir? Se fosse pra receber um prêmio tudo bem. É uma faixa, cara!” Debocharam todos.
A faixa de campeão de 1966 - a primeira conquistada entre os aspirantes - podia não valer nada para os demais jogadores, mas para um catarinense do interior, era algo muito precioso. E eu a merecia. Jogara 10 jogos, sem perder, e tomara apenas três gols.
Assim, ao término da preliminar, posei para a foto dos campeões com a faixa no peito, dei a volta olímpica e depois fui para o vestiário fazer o aquecimento para o jogo contra o “Fogão”. Jogo que não valia mais nada em termos de campeonato carioca. Era só para cumprir tabela.
Naquela mesma hora, no Maracanã, Bangu e Flamengo decidiam o estadual. Deu Bangu.

A patroa vai à feira
Duas semanas antes, tinha estado no Maracanã.
Sempre que uma folga permitia e o Botafogo jogava, misturava-me aos torcedores alvinegros nas arquibancadas para aplaudir as defesas do meu ídolo, o goleiro pernambucano Manga.
Feio - cara marcada pela varíola, daí o apelido de Manga, soube depois - porém elegante, elástico, intransponível, ou quase.
Eu adorava quando o jogo era contra o Flamengo. Os jornais davam destaque às provocações do Manguinha - como ele mesmo se autodenominava:
“Manguinha já mandou a patroa fazer a feira. Contra o Mengo é bicho certo”.
E naquele domingo fiz questão de conferir.
O Bota jogaria desfalcado de vários titulares e os repórteres provocaram Manga.
“E aí Manguinha, você ainda acha que é bicho certo?”
“Não tem problema. Manguinha é suficiente para garantir o bicho. A patroa já foi autorizada a fazer a feira”.
O Flamengo martelou o gol do Botafogo o jogo inteiro. Manga só deixou passar uma e mesmo assim o gol de empate do Mengão.
Só não levou o bicho inteiro.

Vasco vence
E naquela tarde, em São Januário, eu iria me defrontar contra aquela muralha alvinegra. O Vasco jogou com um time bastante modificado por Eli, que fez entrar alguns jogadores que estavam se destacando nos aspirantes. O Botafogo jogou praticamente completo. A ausência maior era a de Gerson, que foi substituído por Parada, e a escalação surpreendente de Rildo – lateral – pela ponta-esquerda.
Vencemos por 2 a 1 (18 de dezembro de 1966).


A zebra andou solta em Natal.
Eu só voltaria a me defrontar com Manga no brasileirão de 1975, quando eu jogava pelo América de Natal e ele pelo Internacional. Não fosse um pênalti defendido pelo Manga no segundo tempo, o colorado teria amargado uma derrota histórica.

Histórias do Fenômeno
Eu procurava ouvir as histórias contadas por jogadores e técnicos que tiveram a oportunidade de conviver com ele.
Paulo Amaral, que foi seu preparador físico no Botafogo, me contou várias:

O empréstimo
 Manga andava necessitando um empréstimo para cobrir os rombos domésticos. Falou, então, com o presidente do clube, que o levou a uma agência bancária, próxima a General Severiano, campo do Botafogo. O gerente do banco explicou como era procedido o empréstimo:
“Dos 10 mil que o senhor quer, serão deduzidos 8% de juros e o senhor deverá nos pagar daqui a 3 meses”.
Manga não ficou muito satisfeito de sair do banco com 9.200 cruzeiros quando a sua pedida era de 10 mil.
Difícil foi convencê-lo a pagar os 10 mil ao banco no fim do empréstimo. Insistia em pagar os mesmos 9.200 que levara. Pagou e não deixou barato.
Todos os dias, Manguinha saltava do ônibus em frente ao Banco. Empurrava a porta da agência e falava bem alto, pra todo mundo ouvir:
“Fala gerente ladrão”!

O tiro de meta
Manga, assim como eu, também escreveu seu nome na história do Maracanã com um gol bizarro. Jogando pela seleção brasileira contra a Rússia, em 65, bateu um tiro de meta com violência, a bola não tomou a altura necessária e chocou-se contra a cabeça de Metreveli - atacante russo que estava fora da área olhando para a arquibancada lotada – que caiu de costas, indo a bola parar no fundo das redes do goleiro canarinho.

Mui amigo
Era folclórico e sincero:
“Manga, o teu irmão – Alemão - foi contratado pelo América, ele é bom de bola mesmo?”
“Se fosse bom não tava vindo pro América, né”?

Cobrador de pênalti
Contratado junto ao Sport de Recife, em 1959, Manga já foi assunto no dia da sua apresentação, no Botafogo. De cara, quis saber quem era o cobrador de pênaltis do time. Apontaram o Didi, dono da “Folha Seca”.
“Era! Daqui pra frente Manguinha vai cobrar”.
Foi difícil convencê-lo a desistir da idéia, mesmo explicando que Didi havia sido eleito o melhor jogador da Copa do Mundo de 1958 e recebera o apelido Mr. Football da imprensa européia.

Manguita, o Fenômeno
Saiu do Botafogo depois de conquistar todos os títulos possíveis e se transferiu para o Uruguai onde, até hoje, é apontado como o maior goleiro estrangeiro que atuou por lá.
Veio então para o Inter para se consagrar bicampeão brasileiro de 75/76.
Quando se apresentou ao colorado, causou espanto pelo rosto envelhecido e pelo sotaque, indefinido entre portunhol e nordestino. Apresentava-se a todos como:
“Jo soi Manguita, o Fenômeno”.

Os dedos tortos
Manga também era conhecido por não dar chances aos goleiros reservas. Atuava de qualquer jeito.
Quando passou pelo Operário de MS, em 77, dirigido pelo também ex-goleiro Castilho, Manguita já estava nos quarenta. Ubirajara, seu goleiro reserva, treinava muito na expectativa de jogar uma partida do Brasileirão.
Domingo, Manga entortou mais um dos seus famosos dedos, luxando o indicador da mão direita. Imobilizaram-no logo após o jogo. Quarta-feira, Bira já se aquecia no vestiário quando Manguita se apresentou ao técnico Castilho. Arrancou a tala que imobilizava o dedo e falou:
“Quero jogar”.
E jogou. Ao Bira restou o consolo: o homem era de ferro.

A aposta
O campeonato paranaense de 1978 poderia ser decidido nos pênaltis e Manga apostou com Evangelino da Costa Neves, presidente do Coritiba, seu clube, 100 dólares para cada pênalti que ele defendesse contra o arqui-rival Atlético.
E, realmente, a decisão foi para as cobranças de penalidades. Enquanto os técnicos decidiam quem iria bater os pênaltis, Manga sentou-se ao lado da baliza e pediu ao massagista aplicação de gelo num dos joelhos, que aparentemente estava machucado. Após enfaixá-lo, foi para o gol. Talvez, seduzidos pelo joelho envolto num pano, os jogadores do Furacão insistiram em cobrar daquele lado e erraram três cobranças. Duas Manga defendeu e uma foi para fora.
No dia seguinte, o presidente entregou 200 dólares ao goleiro que reclamou:
“São trezentos, presidente!”
“Como trezentos, se você defendeu dois?”
“Pressidente mira aca! Manguita não defendio porque la pelota se fuera para fora. São trezentas platitas.”

Nome: Aílton Correia Arruda “Manga”
Nascimento: 26 de abril de 1937, em Recife – Pernambuco.
Em homenagem a este magnífico goleiro, comemora-se, desde o dia 26 de abril de 1975, o “Dia do Goleiro”.

6 comentários:

Adalberto Day disse...

Valdir
Merecida essa homenagem ao grande Manga. Eu também quando garoto, tinha o Manga como um goleiraço, tipo Gilamar do Santos. Nessa eóca Santos e Botafogo eram os melhores.
Grande Manga.....valeu Valdir.
Parabéns
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau.
www.adalbertoday.blogspot.com

Anônimo disse...

Agradeço em nome do meu pai o ex- goleiro Manga as histórias marcantes e com o seu estilo próprio encantou multidões com sua performace no cenário futebolístico mundial.

EDEMAR ANNUSECK disse...

Xico,

Você tá bem de memória guapo. O Manga realmente foi um fenômeno. Só deixou a desejar na Copa de 66, mas, lá todos deixaram a desejar. Parabéns pelas histórias maravilhosas do Manga. Parece que ele está treinando hoje os jovens goleiros do Inrernacional.No momento atravessamos um período de goleiros com pouca qualidade no futebol brasileiro.Nem está qualificado para ser titular por exemplo da seleção. Aliás, nem a seleção tem onze jogadores qualificados neste momento.

Forte abraço

Edemar Annuseck
São Paulo - SP

Paulo Roberto disse...

....em clubes brasileiros os maiores goleiros que vi jogar foram Manga e Bruno Souza (Flamengo)....de Seleção Brasileira, Tafarell...
sou flamenguista e o único time que detesto é o Botafogo(até hoje) apesar de fã de Nilton Santos e Garrincha...
...por causa do Manga...rsrsrs
...eu vi vc jogarno Vasco, Waldir,e o teu blog é M A G N Í F I C O....
...viajei nas fotos...vi Célio...não me lembrava mais que o lateral Zé Maria jogou no Vasco...me emocionei com as fotos...
o maior goleiro que vi jogar foi Yashin...e meu maior ídolo na História do Futebol Mundial fopi Leandro Peixe Frito do Mengo...o único que realmente teve pele rubronegra...
...forte abraço, Waldir...e parabéns,,,

Ze Neto Marcos disse...

O que pouca gente sabe é que manga esteve no Vasco para um período de testes,acho que em 1956,quando ainda era juvenil do sport recife.
Nessa época um dos goleiros do vasco era ernani que jogaria no Botafogo,na mesma época de manga.
Acontece que ERNANI quando no Vasco implicava muito com manga,chamando o de cabou,pois manga sempre vestia uma camisa quadriculada típica dos velhos personagens do faroeste.Manga ficava puto da vida,ao ser provocado por ernani.
Ao chegar ao Botafogo em 1959,o reencontrou,e não deu chance nenhuma a ernani.Jogava até machucado.
Ernani só teve vez no Botafogo,quando manga injustamente foi acusado de gaveteiro,querendo retornar a Pernambuco.
Seus próprios companheiros o CONVENCERAM a ficar,e manga se tornou o maior goleiro do botafogo na historia.

Ze Neto Marcos disse...

ERNANI chamava manga DE CAWBOY,o que o deixava bastante irritado.