sábado, 16 de maio de 2015

Uma dupla do barulho

Em 1950, o Brasil sediou uma Copa do Mundo e inaugurou o Maracanã.
No mesmo ano, surgiu em Brusque a sensação de futebol catarinense da década – o Carlos Renaux.
O tricolor brusquense sagrou-se campeão estadual daquele ano e bisou o feito, em 1953, de forma invicta. Alcançaria excelentes resultados até 1958, ano da conquista da nossa primeira Copa do Mundo em gramados suecos.
Neste período de oito anos, o Renaux ainda disputou as finais de 1952, 57 e 58, ficando com o vice-campeonato nestas oportunidades.
Craques como Teixeirinha, Ivo, Pilolo, Julinho, Petruscky, Agenor, Mossiman, Pereirinha, entre tantos, desfilaram um futebol mágico que encantou toda uma geração de brusquenses.
Um jogo amistoso contra o Botafogo do Rio, em 58, realizado pouco antes da Copa, que registrou um extravagante empate de 5x5, - considerado até hoje como o “Jogo do Século” em SC - determinou o fim de uma trajetória de conquistas de um time do interior do estado.
Neste elenco, dois merecem destaque - não só pela bola que jogavam - porque foram pródigos em presepadas.
Antigamente, o rango da rapaziada, que precedia os jogos de futebol, tinha muita sustança. Nada destas comidinhas metidas à besta - supervisionadas por nutricionistas – e servidas aos atletas de hoje, tipo rações balanceadas de Pet Shop. Tinha macarrão, muito bife, feijão, arroz e capilé. O verde da alface era só para enfeitar e colorir o prato. Goiabada com queijo era o supra-sumo de sobremesa.
Ninguém se preocupava, nem o médico do clube, com o jogo que iria acontecer dali a umas três horas. O pessoal estufava mesmo a pança com gosto.
Petrusky e Pereirinha do Carlos Renaux, para prevenir e garantir o prato cheio deles, usavam uma artimanha que funcionava muito bem: primeirões na fila do almoço, supervisionavam a mesa onde eram servidos os pratos, separavam os alcatras mais robustos, davam uma escarrada e simulavam uma cuspida. A maioria convencida de que os dois realmente haviam cuspido naqueles nacos de carne, se consolavam com os pedaços menores e menos apetitosos.
Para aumentar a potência do chute, o glutão Petruscky ainda empurrava dois terços da bandeja de macarrão no prato.
Concentração não era muito comum naquele tempo e pernoites em hotéis aconteciam de vez em quando. As distâncias entre as cidades, percorridas em péssimas estradas sem pavimentação, obrigavam os times a se deslocarem um dia antes do jogo. Somente nestas oportunidades os jogadores dormiam fora de casa.
O amadorismo da época não permitia hotéis de luxo. Assim, pousadas simples, escolas e também ginásios de esportes eram transformados em alojamentos para os jogadores. Camas lado a lado.
A dupla Pereirinha e Petruscky aproveitava o sono profundo de alguns colegas para trocar os copos de água, onde alguns colegas guardavam suas pererecas postiças antes de dormir, pra modo de deixá-las mais macias ao amanhecer de um novo dia.
Ao acordarem, levavam horas tentando descobrir porque as bichinhas ficavam meio desordeiras na boca.
As dentaduras dançavam descompassadas e a fala de alguns adquiria um chiado diferente. Outros tinham que segurá-las para emitir algo inteligível.
-Ô Julio! Vê se exxxta é a tua.
-Nénão, exxxperimenta a minha...

Foto 1 - Carlos Renaux - Campeão Catarinense Alípio Rodrigues, Bianchini, Tesoura, Orival, Pilolo, Afonsinho, Arno , Ivo; Aderbal; Otavio, Helio Olinger, Petruscky e JoineAlípio Rodrigues, Bianchini, Tesoura, Orival, Pilolo, Afonsinho, Arno , Ivo; Aderbal; Otavio, Helio Olinger, Petruscky e Joine
Foto 2 - As faixas com a família
Foto 3 - 1958 - O time que enfrentou o Botafogo: Esnel, Tesoura, Ivo, Baião, Mosimann e Gordinho; Petruscky, Julinho, Teixeirinha, Júlio Camargo e Agenor
Foto 4 - O Botafogo: Beto, Adalberto, Servílho, Domício, Nilton Santos e Pampolini; Garrincha, Paulo Valentim, Edson, Didi e Quarentinha.














3 comentários:

Adalberto Day disse...

Valdir -
Sensacional essa matéria. Já havia lido essa reportagem em outra sua coluna, e também no livro lançado pelo Teixeirinha. Mas aqui você faz um enfoque detalhado deste que foi um dos jogos mais memoraveís em SC.
Um abraço Chuquinho e parabéns pelobelo trabalho.
Adalberto Day Cientista Social e pesquisador da História em Blumenau.

Anônimo disse...

Caro Valdir!
Parabens pela atualizacao.
Apos ter lido o seu livro e sempre delicioso poder acompanhar o blog a cada semana.
Ao ensejo, gostaria de deixar disponivel, a voce e aos seus prestigiados leitores, o www.papoesportivo.com e a minha coluna, Visao de Radar, a qual assino Fabio Oliva, para todo e qualquer tipo de divulgacao.
Ha notas e novidades por la que ninguem tem.
Um abraco,
Fabio de Menezes/via e-mail

EDEMAR ANNUSECK disse...

VC é mesmo o cara Valdir Appel, o mais famoso dos Appel. Quer dizer que Petruscky e Pereirinha eram os que mais aprontavam é? Parabéns pelo texto. Recordar é viver já dizia o poeta Toni Nicolas Bado. Abração Xico.