domingo, 19 de janeiro de 2014


Eli do Amparo, homem negro, alto e de pernas tortas.

Jogando no Canto do Rio, o médio-direito Eli mostrou um futebol que despertou o interesse do Vasco da Gama. Em São Januário, brilhou por longos anos e inesquecíveis anos. Jogador valente, vigoroso, disciplinado, exemplo de atleta. Um líder com a camisa do Vasco e da seleção brasileira nos anos 40 e 50.
Conhecido como o Xerife, foi campeão carioca várias vezes, brasileiro e sul americano com a camisa cruzmaltina. Pela seleção brasileira conquistou o pan-americano em 1952 e disputou a Copa do Mundo de 1950 e 54.
Encerrou sua vitoriosa carreira no Sport do Recif,e em 1955, onde protagonizou uma das passagens memoráveis do nosso futebol ao conquistar seu último título, o de campeão pernambucano pelo Leão da Ilha.
Na partida final contra o Náutico, Eli recebeu uma cotovelada do ponteiro Ivanildo que abriu a sua testa, fazendo jorrar sangue pra todo lado. Enquanto Eli era atendido, Ivanildo fez o segundo gol timbú, desempatando o jogo que estava um a um.
Eli voltou ao campo - com a camisa ensangüentada e a cabeça enfaixada para conter o sangue – e comandou a reação do seu time. Portando-se como um verdadeiro leão, Eli impedia todas as investidas do adversário por cima ou por baixo. Nas bolas altas metia a cabeça empapando a faixa branca do rubro sangue do seu time.
O empate não demorou a acontecer e um lançamento perfeito de Eli para o centroavante Naninho levou o Sport à vitória por 3x2.
Virou lenda em Pernambuco.
Depois, como treinador, mostrou seu lado mais afável. Tratava os jogadores como filhos. Era um gentleman a desfilar cortesia nos bastidores da bola.
O Vasco abriu suas portas novamente para Eli, que foi funcionário do clube por longos anos exercendo varias funções: de técnico, auxiliar-técnico e preparador de goleiros inclusive.
Sempre foi o homem de confiança dos treinadores que passaram pelo Vasco, entre eles o elegante e finíssimo Zezé Moreira. Formavam uma dupla de homens inteligentes, atenciosos e de indiscutível competência. Juntos conquistaram o Torneio IV Centenário do Rio de Janeiro e a Taça Guanabara em 1965 e o Torneio Rio - São Paulo em 1966. Este último, dividido com mais três equipes. Por falta de datas no calendário, a CBD (antiga CBF) proclamou campeões os times do Corinthians, Botafogo, Santos e Vasco.
Até o final dos anos 60, o cargo de treinador de goleiros nos clubes brasileiros era preenchido por um ex-profissional de futebol. E esta função também era acumulada pelo Eli, que pelos anos de prática, sabia chutar muito bem, condição básica para preparar goleiros na época. Estes treinamentos consistiam em exaustivas seqüências de chutes de longa e curta distância, cruzamentos e cobranças de faltas até o goleiro cair “morto”. Cair morto, segundo os entendidos da época, determinava que o goleiro tinha treinado muito bem. Levar à exaustão era sinônimo de boa preparação. No encerramento dos trabalhos, Eli alinhava várias bolas em cima do travessão do gol de entrada dos vestiários de São Januário - as traves eram quadradas na época. Depois, deslocava-as com chutes certeiros de fora da área. Muitos tentavam a proeza e raramente conseguiam e, quando apostavam, perdiam.
Graças a Eli subi rapidamente à condição de titular do Vasco em 1966 e, em 1969, tive a oportunidade de ser dirigido por ele no Sport do Recife, quando fui cedido ao time da Ilha do Retiro por empréstimo.

(Eli do Amparo nasceu em Paracambi-RJ, em 14/05/1921 . Faleceu em 09/03/1991 Copas: 1950. Jogos pela seleção: 19 (3 não-oficiais). Clubes: Canto do Rio, Vasco, Lusa e Sport. Títulos: Campeão carioca em 1945, 47, 49, 50 e 52 e Sul-Americano em 49, pelo Vasco; pernambucano em 55, pelo Sport; da Copa América em 49, pela seleção brasileira). (Fonte: Folha on-line)

6 comentários:

Adalberto Day disse...

Valdir
Eli do Amparo dispensa comntários, você já transcreveu tudo. Os dos melhores e habilidosos jogadores que o Vasco Teve. Campeões diversas vezes, jogou com os maiores craque da época onde nosso Vasco durante muitos anos reinou como o melhor clube disparado de nosso futebol. Se exisatisse campeonato de futebo Brasileiro entre os anos de 1944 até 1956, o Vasco certamente ganharia pelo menos uns 8.
Um abraço e parabéns

Anônimo disse...

Valdir, o que aconteceu com os comentarios do post anterior? Aquele que me pegou de surpresa e me deixou emocionado...

Voce retratou muito bem o Eli. Alem de craque de bola era um deus da raca. Quando foi auxiliar tecnico, teve que tapar buracos algumas vezes, pois como voce pode testemunhar, na decada de 60 os tecnicos nao esquentavam lugar no Vasco - excecao feita a Zeze' Moreira e Paulinho Almeida.

Pois numa dessas oportunidades em que Eli, interinamente, ocupou o cargo de tecnico, o Vasco venceu o Fluminense por 1x0. Foi no turno do campeonato de 1964 e o Vasco estava numa crise braba. Esse foi o primeiro jogo que me lembro vividamente de ter assistido ao vivo. Antes, fui a outros, mas nao tenho recordacoes nitidas como desse.

Uma vez li uma historia maldosa sobre uma entrevista que o Eli teria dado na semana dessa partida contra o Fluminense. Segundo essa historia, Eli estava muito tenso, pela sua inesperada e subita responsabilidade justamente antes de um classico importante. Ao ser perguntado se o Vasco iria jogar em 4-2-4 ou 4-3-3, Eli se confundiu e anunciou solenemente: O Vasco jogara' em 4-3-4. O reporter: 4-3-4? Nao esta' sobrando um nessa variacao? Eli: Sim, fica sempre um na sobra. Vareia, vareia. Mas eu duvido que essa historia tenha acontecido, ou pelo menos, que o protagonista tenha sido o Eli.

Anônimo disse...

Mauro, Estou tremendamente chateado. Fui mexer nas postagens e deletei os comentarios do texto.
Muita gente deixou recado.
Quanto a voce fico feliz que tenha gostado.
Abraço,
Valdir

Anônimo disse...

Que belo texto sobre o Eli, parabéns Valdir, lá do céu ele está feliz em ver a sua amizade sincera, que hoje em dia nesse futebol capital é dificil se ver.

Anônimo disse...

OLA GRANDE VALDIR CUSTOU MAS CONSEGUI ACHAR ONDE ENTRAR NOS COMENTARIOS.ADORO RECORDAR POR ISSO SENPRE LEIO SUAS LIDAS RECORDAÇOES, MAS VE SE VOCE CONSEGUE ACHAR UMAS PARTIDAS QUE O NOSSO VASCO GANHOU DO FLAMENGO PORQUE TOU COM MUITA SAUDADE.VALEU GRANDE ABRAÇO********

Terezinha disse...

PARABÉNS! VALDIR
O nosso querido ELI DO AMPARO, com toda certeza merecia uma homenagem assim. Tive o prazer de conhecer e conviver em alguns momentos com sua família maravilhosa,era colega de escola da filha dele, Kátia, que por sinal era muito linda e educada. Eu sempre o questionava sobre o nosso Vasco da Gama, naquela época você era o goleiro, e eu era sua fã, pois além de ser vascaína sou catarinense. Um abraço para você.