quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O Sete de Ouro

Ninguém pode imaginar que aqueles poucos metros quadrados de alvenaria rebocados a salpique e cobertos de telhas de eternit seja o ponto de encontro de desportistas brusquenses amantes do futebol.
No Sete de Ouro não há lugar para preconceitos, por isso, ex-jogadores, autoridades, empresários, jornalistas, pinguços da gema e curiosos se misturam para beber e falar de música e futebol. Principalmente futebol.
A porta única dá passagem para o ambiente composto de um balcão com três banquetas, duas mesas e algumas cadeiras; prateleiras que expõem as cachaças artesanais - purinhas ou aditivadas com alguma erva: arnica, agrião, guaco, boldo - que tem a finalidade de aperitivar os bebedores de cerveja e aliviar o estômago aziago de algum cliente passado.
Para os paladares mais aguçados e amigos do proprietário – Miro Pires – nunca falta aquela preciosa cascavel da diretoria feita no alambique do Tita Albrecht da vizinha cidade de Guabiruba
No canto superior direito de quem entra no bar, ao lado da flâmula do América do Rio, um rádio a válvula da marca Fram é ligado diariamente para tocar as rancheiras, tangos e valsas selecionadas pelo locutor Saulo Tavares da Rádio Araguaia. Saulo, dedica aos freqüentadores do Sete de Ouro suas seleções musicais, de um acervo fantástico guardado a sete chaves desde os anos 50.
Com sua voz marcante e rouca, passa mensagens para os ouvintes, marca jogos de bocha no seu bairro Guarani - onde o bar está localizado -, convoca os veteranos do futebol do time do 7 de Ouro, encarna nos habitués do bar e em todos os amigos que lhe fazem companhia às quintas-feiras, quando grava, lá mesmo no boteco, o seu programa Mesa de Bar para uma TV local.
Neste ambiente pequeno e aconchegante o clima nostálgico favorece o envolvimento e a integração entre entrevistador e entrevistados. No pequeno recinto só cabe ele, Saulo, e os dois convidados, geralmente um sanfoneiro e um violeiro, que ficam atrás de uma das mesas, encostados na parede que serve de moldura para recortes de jornais, fotos de times de futebol, cantores, artistas de cinema, e figuras populares da cidade.
O rancho do Sete de Ouro encosta no morro de onde desce limpa a água diretamente para a torneira do bar. Este fato é sempre motivo de inspiração pro Saulo, que volta e meia oferece o clássico da música sertaneja - Água do Mato, de Zé Valdir - aos ouvintes do seu programa.
O camera man da emissora de TV praticamente se embute na porta de entrada, buscando o melhor ângulo para o seu equipamento enquadrar os personagens que irão abrilhantar o programa a ser gravado. O ambiente já está praticamente lotado com a segunda mesa previamente ocupada por fregueses que disputam a tapa o privilégio de participar como ouvintes da gravação.
É a claque espontânea.
No balcão, Miro Pires municia o apresentador com um xarope dos bebos, disfarçado pelo copo da água mineral que patrocina o Mesa de Bar.
Do lado de fora se acotovelam os curiosos na tentativa de brechar a gravação, espremendo o cinegrafista que praticamente bloqueia a visão com o seu corpo e câmera armada na única entrada do boteco.
Sempre que é convidado, o Miro também dá suas canjas com a sua gaita de ponto (8 baixos).
Entre as inúmeras fotos que emolduram o bar, uma* de Mané Garrincha ganha destaque. Em preto e branco, Mané se ensaboa embaixo do chuveiro do Maracanã, em 1958, e revela a sua origem: Pau Grande, localidade do município de Magé, interior do estado do Rio de Janeiro.
*Nota: O fotógrafo Walter Firmo é o autor da foto.

Foto:
Saulo Tavares discursa para Herbert, Ivan, Polaco, Walace, Julinho e Godeberto e faz a entrega de uma foto restaurada do Paysandú - Campeão Catarinense da Liga Especial de 1956 - ao Sete de Ouro. Maio de 2008
(Foto Márcio Custódio)

7 comentários:

Anônimo disse...

Valdir
Eu sou blumenauense, mas não ga Gema. Meu pai com orgulho nasceu em Brusque, por isso talvez minha ligação tão grande com essa querida cidade. Sempre estou atento e curioso sobre as coisas que acontecem por aí.Tenho raizes com esse cantinho encantador.
Parabéns pelo seu belo texto.
Um abraço
Adalberto Day de Blumenau.

Anônimo disse...

Valdir,
teu blogo tá divertido! Tanto quanto tuas crônicas imortais!
Felicidades, campeão!
Saulo Adami

Anônimo disse...

E VERDADE VALDIR EU FUI LA NO SETE DE OURO SO PRA MATAR A CURIOSIDADE FOI NUMA SESTA FEIRAS E VI COISAS MUITO LINDAS TINHA GAITEIROS VIOLEIROS E VARIOS PANDEIROS TOCANDO AQUELAS INESQUECIVEIS MUSICAS CAIPERAS, E TODOS ACOMPANHANDO AS CANTORIAS INCLUSIVE EU QUE ADORO MUSICAS CAIPIRAS VALEU ABRAÇO....

Anônimo disse...

Amigo irmão Valdir
O Blog está cada dia melhor. Impressionante, a riqueza de matérias inéditas. Está saindo melhor do que a encomenda.
Beijos no coração. Levi Lafetá

André Funger Schmidt disse...

Valdir parabens pelo blog!
e obrigado por ter defendido com tanto carinho a camisa vascaína!
um forte abraço e saudações vascaínas!

EDEMAR ANNUSECK disse...

Grande Xico,

Nessas reuniões devem rolar histórias fantásticas. Fiquei muito feliz em ver na foto as pessoas que conheço como Saulo Tavares, Wallace, Julio Hildebrant e Godeberto. Esses grande nomes do Paysandu fazem parte do início de minha carreira na Rádio Nereu Ramos.
Xico fiquei emocionado em ver o Saiulo completando 50 anos de rádio, e seus amigos Wallace, Julinho e Godeberto com ar de quem quer mais.
Você já está merecendo uma estátua na Praça defronte a Igreja aí em Brusque.
Aproveite para trazer mais fotos e detalhes de grandes jogadores, eu disse grandes jogadores do futebol brusquense e catarinense e não enganadores como temos nos dias de hoje.
Aliás, cabem as frases meu caro Xico: "Aproveite a vida antes que ela se aproveite de você" e "saber viver é uma arte".
Dê um forte abraço nessas figuras que marcaram meu início de rádio e que jogavam futebol e não pipocavam.
E dá-lhe uma "purinha" das mais purinhas.
Forte abraço

Edemar Annuseck
Sportv- SP

Unknown disse...

Obrigado, Edmar. Concordo com você, tínhamos muitos craques por aqui e pretendo resgata-los em breve no livro do Paysandú. Abraço