domingo, 19 de janeiro de 2014

El Gato.

Valdir, Rene, Moacir e Andrada
El Gato 
Ao ser contratado pelo Vasco da Gama em 1969, o argentino Andrada levou pouco tempo para descobrir que as contusões de Cláudio, do Santos, e Lula, do Corinthians, companheiros de Félix na seleção brasileira, abriam as portas e oportunidades para outros goleiros.
De olho numa das vagas, Andrada tratou de agilizar o andamento dos papéis e naturalizou-se brasileiro. Esforço inútil. Como todo mundo sabe, Ado e Leão foram convocados para ocupar o lugar dos contundidos.
Antes da chegada do gringo a São Januário, os uniformes dos goleiros vascaínos, eram sempre cinzas. Ressalva apenas para o meu uniforme negro, que eu mesmo mandara fazer em homenagem ao meu ídolo, o russo Yashim.
Andrada ousou e carregou nas tintas promovendo um festival de camisas coloridas: bordô, verde, azul, que desfilava a cada jogo, encomendadas com golas altas, mangas e peitos reforçados e calções com forros laterais.
Uma combinação um tanto bizarra, considerando as golas mais adequadas ao frio dos pampas que ao intenso calor do Rio, e os acolchoados que já eram praticamente coisa do passado, assim como as aposentadas joelheiras.
Carregava uma imensa mala da concentração para o estádio. E somente decidia pela escolha do uniforme, minutos antes da partida.
Sua preocupação constante era com as luvas. Usava as argentinas para treinar e jogava com los guantes* italianos. O que tínhamos disponível no mercado eram luvas da marca Drible: secas, duras e de pouca flexibilidade.
No molhado até que funcionavam... um pouco.
Consegui, através de um amigo italiano, importar as luvas, caras, e fazia questão de exibi-las para o colega. Ele era o titular e não resistia à minha oferta: eu trocava uma da terra da pizza por cinco portenhas. Assim, fiz um bom estoque.
Outra preocupação do goleiro era com os cabelos fartos - dos lados.
Em cima do cocuruto um chumaço teimava em ficar esvoaçante. Resolvia o problema com um spray fixador, que não economizava antes de entrar em campo.
Depois era só rezar para não chover e o visual se mantinha impecável até o final do jogo. É claro que sempre corria um risco ao passar perto do Buglê. Várias vezes Andrada voltou correndo para o vestiário para passar uma nova carga de fixador, depois de ter o penteado assanhado pelo colega sacana.
A Federação Carioca de Futebol resolveu aplicar multas nos goleiros que fizessem valas verticais nas pequenas áreas do Maracanã.
Este hábito de marcar a frente do gol, riscando o chão com a ponta da chuteira era uma prática comum na época, e facilitava a colocação do goleiro na baliza.
Com a proibição, Andrada passou a levar para o campo, chumaços de algodão. Com eles, marcava os pontos desejados, sem magoar a grama.
Nas arquibancadas do Maracanã, os torcedores suspeitavam que fosse uma mandinga do argentino. Alguns jogadores adversários, desinformados, também temiam mexer nos algodões.
Mas quando Luizinho Lemos, do América, passou a roubar os algodões e outros atacantes adversários seguiram o exemplo, Andrada não teve outro jeito senão levar um pacote de algodão para cada jogo – que guardava junto à rede.
Tinha, assim, munição suficiente para repor após cada investida do ataque adversário à sua área. Nos dias de hoje, muitos goleiros batem faltas e pênaltis. No passado, o goleiro pouco abandonava o seu arco. E foi numa partida contra o América do RJ que Andrada, mais uma vez, teve que se contentar em ser apenas um excelente goleiro.
Silva Batuta fez um gol de placa para o Vasco – o mais lindo que eu vi no Maracanã. Enfileirou em linha reta, partindo da linha central, os homens do meio de campo e a zaga americana, para balançar as redes inapelavelmente.
Faltando alguns minutos para o fim da partida, um pênalti foi marcado a favor do Vasco.
Andrada gritou, em portunhol, para o capitão Buglê:
-Buga! Dexa que jô bato.
-Vá à merda gringo, pede pra bater quando tiver 0 x 0. Respondeu o colega mineiro.
Buglê fez o quarto gol e na saída de bola o América fez o gol de honra, no apagar das luzes.
Invocado, Buglê se aproximou da área vascaína e provocou o goleirão argentino/brasileiro:
-Tchê! Tu estás aí é pra defender.

11 comentários:

BLOG DO ROBERTO VIEIRA disse...

El Gato Unzelte agarra no gol? Grande post, Appel! Hoje tem Timba aí perto, de ressaca ou na Ressacada?

Adalberto Day disse...

Valdir
Falar sobre o grande milongueiro Andrada. Ele foi um grande goleiro. Quando garoto o Barbosa já era veterano e eu fui fã do Miguel, Humberto, Edson Borracha, mas principalmente do Ita. Não sei por que mais quando vem a minha cabeça lembrar de goleiro do Vasco, o primeiro é Ita, claro lembro de muitos. Exemplo: nunca me esqueci de você, até por ser de Santa Catarina, como existiu também o Gainete. Mas o Andrada que tive o prazer de conhecer no lançamento de seu livro na Boca do Gol, em Brusque, será inesquecível. Andrada foi especial, ele realmente inovou o uniforme que sempre tradicionalmente bem observado por você era cinza. Ele usava várias cores, verde, marrom,....mas você já havia quebrado esse estilo utilizando Preto. Agora lembro que foi cogitado ele ser o goleiro da seleção, mas isso claro só podia ser boato para atiçar o Andrada. Imagina se deixariam um argentino vestir a camisa da seleção?., mas o Andrada acreditou, se naturalizou, coisa que eu não sabia que tinha se concretizado. Ma que o Andrada foi um grande goleiro e inesquecível, foi mesmo, e você teve a sorte, ou o azar de ser seu rreserva...heheheheheh, claro sei do seu carinho por ele...porém enquanto ele esteve no Vasco, ele não te deu chance, só quando se machucava. Lembro que na decisão de 1970, o Andrada estava machucado, e foram buscar o goleiro Elcio do Botafogo de São Paulo, que foi um dos goleiros mais vazados de o campeonato que hora havia se encerrado em São Paulo, e colocaram para disputar as duas últimas partidas, pura sacanagem, achavam que voc~e estva sem ritmo de jogo. Quando o Andrada retornou, nunca mais se ouviu falar do Elcio.
Abraços Adalberto Day cientista social e pesquisador em

Osvaldo disse...

Oi, Valdir;

Andrada terá sido pra muitos vascínos o melhor goleiro do Vasco depois de Barbosa... e entre eles, eu também embora o Barbosa eu nunca tenha visto atuar.

Mas há três goleiros,não contando o Andrada em que eu sentia grande confiança como torcedor; Edson Borracha, Pedro Paulo e Valdir. Sempre admirei a sua elegância entre os postes e segurança que transmitia, tanto ao time, como à torcida.

Quanto ao goleiro que introduziu novas cores no uniforme, acho que o primeiro a "ousar" fazê-lo, foi o Raul do Cruzeiro com o uniforme amarelo vivo.

Um abraço, amigo Valdir.
Osvaldo

Alexandre Porto disse...

Andrada foi o meu maior ídolo. Cheguei até a pensar na loucura de ser goleiro.

Com seis anos odiava Pelé por aquele gol "injusto" :)

Adorava a camisa bordô; e eu demorei a aceitar o Mazaroppi.

Costumo brincar que no DVD do Pelé tem 500 e tantos gols e uma defesa ... do Andrada. Num voleio do Rei que ele espalmou com a famosa mão trocada.

Mauro disse...

A torcida gritava o nome do Andrada antes de cada partida. Vi ele salvar o Vasco de muitas derrotas com defesas milagrosas. So' nao conseguiu fazer milagre nos gols contra do Rene. Mas o Valdir que me perdoe, os maiores goleiros que vi defendendo o Vasco foram, em primeiro lugar, Andrada, e em segundo, Carlos Germano. O Valdir vem em terceiro, disputando com o Mazaropi e o Acacio. O primeiro que vi foi Ita, otimo goleiro, vi tambem Gainete, excelente. Nem cito o Leao porque nao esquentou o lugar. Roberto Costa era muito bom tambem. Ja' o Regis... prefiro nao comentar. Enfim, o Vasco quase sempre teve grandes goleiros, a concorrencia e' muito acirrada. Por exemplo, na atualidade, o Fernando Prass esta' agradando bastante.

Valdir, tenho uma vaga lembranca que o Vasco perdeu para o America a partida em que o Silva fez aquele gol de placa. Me lembro bem que a torcida aplaudiu de pe'. Mas a lembranca do resultado e' apenas vaga, posso estar enganado.

Valdir Appel disse...

Mauro,
Não me inclua na tua lista dos melhores do Vasco.Quanto ao gol de placa do Silva, foi mesmo contra o America, vou verificar se a historia do penalti foi em outra partida. Abraço.

Ricardo Brandau disse...

Olá Valdir,
Sobre a naturalização de Andrada, eu lembro que o assunto foi tema de debates antes da Copa de 74, pois os goleiros brasileiros não passavam confiança e se cogitou naturalizar os argentinos Cejas, então no Santos e que tinha ganho a Bola de Ouro de Placar, em 1973, e Andrada. Mas parece que a Ditadura vetou, valorizando o "produto" nacional.
Abraços

Valdir Appel disse...

Ricardo,
Podes ter certeza que de fato Andrada se naturalizou logo apos ter chegado ao VAsco, em 1969, visando a Seleção. Lembre que ele era seleção na argentina.
Em 74 a polemica voltou com mais enfase, principalmente porque ele já estava por aqui há muito tempo,conquistou titulos, e era melhor do que os brasileiros.

Antonio Estevan disse...

Valdir,

O Andrada, na minha opinião, foi o goleiro mais ágil que conheci.

No jogo dos 1000 gols do Pelé ele fez uma defesa simplesmente fantástica, saltando pra trás e espalmando a bola com a mão trocada.

Lembro tbm que nesse jogo entrou um rapaz pelo Vasco chamado RAIMUNDINHO, e não me recordo dele ter jogado outra vez pelo Vascão. Acho que ele era bem jovem e talvez estivesse até prestando serviço militar, pois o cabelo era, salvo engano, raspado igual ao dos "recos". (em BSB chama-se ou chamava-se soldado de RECO)

Vc lembra dele?

Outra coisa, é verdade ou mito que o Felix se orientou com o Andrada pra aprender a sair do gol para rebater bolas altas? Em Brasília corria essa informação.

Do Andrada lembro tbm de uma bomba do ZEQUINHA, ponta direita do Botafogo, que explodiu na cara dele.

Passou o jogo todo grogue mas não se entregou.

Ao final do jogo, acho que recebeu um rádio MOTOROLA da Tv Tupy como o melhor em campo e após isso desmaiou.(ou fingiu desmaiar.rsrsrsrsr)

Se não me falha a memória o rádio MOTOROLA era entregue por um reportes de campo chamado FAÍSCA, que foi o cara com o sotaque carioca maissssssssss carregado que á ouvi. Lembra dele?

Abração.

Saudações vascaínas.

Vascão subindo, ao lado de outro time do seu coração, o Atlético Goianiense.

Anônimo disse...

ALÔ VALDIR TEM BOLA NA REDE VALDIR ASSIM O CHACRINHA ENCERRAVA OS DOMINGOS.
ANDRADA A BARREIRA HUMANA TEMPOS INESQUECÍVEL.

Anônimo disse...

ALÒ VALDIR CADÊ PEDRO PAULO TEM NOTICIAS ? SOU O FLAVIO COSTA !
RECORDAR O ANDRADA É VOLTAR EM UM TEMPO LINDO,QUE PASSOU MAS QUE NÃO SAI DA MEMÓRIA DE TODOS OS VASCAINOS ,LEMBRANDO OS ANOS 70 VASCO 1X0 FLU O GERSON BOTOU O LULA CARA A CARA A BOLA ENCOBRIU O FIDÉLIS O ANDRADA DEU UM PEIXINHO O ESTÁDIO ENTROU EM DELIRIO O CARA DO MEU LADO JOGOU O RÁDIO NO GRAMADO LEMBRA DESTA PARTIDA? EM CAMPO DESDE 69 ATÉ 75 FOI NOSSO IDOLO E HERÓI EM JOGOS DECISIVO ,COMO NAS VITÓRIAS CONTRA O SANTOS DE PELÉ , CRUZEIRO DO CRAQUE DIRCEU LOPES E O INTERNACIONAL DE FALCÃO ESCURINHO E MANGA, ATACANTES COMO DOVAL , CLAUDIO ADÃO, SAMARONE FLAVIO, ZICO JAIRZINHO PAULO CEZAR.FALAVAM SER MUITO DIFICIL FAZER GOL NO ANDRADA,O NOSSO TIME CAMPEÃO DE 1974 JAMAIS SERÁ ESQUECIDO QUE SAUDADE MARAVILHOSA!! ANDRADA, FIDÉLIS, MIGUEL,MOISÉS E ALFINETE,ALCIR ZANATA E O PORTUGUÊS PERES DEPOIS ADEMIR JORGINHO CARVOEIRO , ROBERTO DINAMITE E LUIZ CARLOS... SINTO MUITO ORGULHO DE TER VIVIDO ESTA ÉPOCA E TER IDO AO MARACANÃ NESTA FINAL E TER VISTO O ANDRADA COM SUA DEFESAS SENSACIONAIS . SAUDAÇÕES VASCAINAS.
FLAVIO COSTA CONSELHEIRO DO CRVG