segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Alemão


Alemão, o Canhão da Ilha
Eu tive a oportunidade de jogar contra alguns dos principais batedores de faltas do Brasil, entre eles Rivelino, Zico, Paulo César Caju, e treinar contra aquele que tinha o chute mais potente que eu já vi no futebol brasileiro. Ele veio do Recife, onde fora apelidado de “Canhão da Ilha” pela torcida do Sport. Foi precedido no Rio pelo seu irmão mais famoso, o Manga, goleiro do Botafogo. Em uma única oportunidade me confro
ntei contra ele em um treino do América, onde jogávamos. O nosso técnico era o Gentil Cardoso que para não deixar o costume de jamais perder treinos, marcou um pênalti a favor dos titulares contra os aspirantes.
Preparei-me para a defesa sem nenhuma convicção. Escolhi um lado e pulei pra lá. A bomba que saiu dos pés do Alemão, explodiu na minha mão direita e a bola saiu mansa pela linha de fundo. Levantei-me com intensas dores no pulso e pedi assistência médica. Ao meu lado Gentil comentou:
“Ô, goleirinho! Você tinha que meter a mão, né? Agora, agüenta!”.
Foi contra o Fluminense, num jogo realizado nas Laranjeiras que eu presenciei o estrago que a perna direita do zagueiro era capaz de fazer. Em três oportunidades, Jairo, goleiro tricolor, ajeitou a barreira do lado direito da sua meta. Alemão que tomava uma distância quilométrica para chutar, nas duas primeiras tentativas, mirou e acertou o mesmo homem na barreira, colocando-o a nocaute
Na terceira cobrança Jairo só escutou o barulhinho que a bola faz ao estufar as redes. A bola passou no meio da barreira.
O cara que levou as duas primeiras porradas se agachou permitindo passagem para o pombo sem asas. Afinal, era louco, ma non tropo. Depois esta arma mortal foi anulada pela esperteza do jogador Almir, que inventou a barreira antes da bola. Sabendo que a coordenação e a precisão do chute do pernambucano dependiam exatamente da distancia que ele tomava, Almir posicionou-se nove passos antes da bola, obrigando o zagueiro a desviar do obstáculo antes de chegar para o arremate, perdendo assim a sua eficiência e potência.
Esta prática passou a ser adotada por todos os adversários do Mequinha e os chutes do Alemão nunca mais foram os mesmos. Mas, ainda haveria uma mostra da potência do seu chute. O Torneio Início carioca de 1966 foi decidido em cobranças de pênaltis pelo Fluminense e América. Na época, cada cobrador batia uma serie de três penalidades máximas.
Assim, Gilson Nunes, pelo Fluminense, e Alemão iniciaram a disputa. Gilson, habilidosíssimo na perna esquerda, batia firme e colocado longe do alcance do goleiro Ari. Bola num canto, goleiro do outro. Alemão, se colocava antes da meia lua da grande área. Partia em velocidade e disparava um bólido no meio do gol, Edson Borracha não esboçava sequer a defesa. A bola simplesmente o atravessava. O público, no Maracanã, delirava. Não me lembro quantas series cada um cobrou. O único pênalti perdido pelo Alemão e que determinou a vitória do time das Laranjeiras, foi no mínimo extraordinário. A bola chutada subiu alguns centímetros e chocou-se violentamente contra o travessão, indo parar no meio de campo.

Foto 1- O zagueiro Alemão do Sport ao lado do Pelé. (Arquivo do JC)

8 comentários:

Adalberto Day disse...

Valdir
Essa história do Alemão eu já tinha conhecimento, penso que foi em seu livro. Mas realmente era potente o chute dele, você soube provar isso. Agora o Gentil Cardoso, era fera também, além de sempre marcar um pênalti contra o time reserva nos treinamentos, queria que o goleiro deixasse passar? Ai é demais. O Alemão que era irmão do famoso goleiro do Botafogo, Internacional, Seleção, o Manga, pode não ter feito tanto sucesso, mas que deve existir um monte de ex goleiros que sonham, ou tem pesadelos, isso de vê ser fato.
Um abraço
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau.

Valdir Appel disse...

Beto,
A melhor do Manga, jogando no Botafogo: o reporter carioca perguntou ao goleiro se o Alemão, seu irmão, era bom zagueiro.
"Se fosse bom não viria pro América, né?"
Só matando!

Alexandre Porto disse...

Olha quem eu achei aqui Valdir

http://www.bangu.net/informacao/porondeanda/26-fidelis.php

O Touro Sentado

Osvaldo disse...

Valdir;

Este tema de hoje, falando de Alemão, Pelé, Manga e outros, fez-me recuar no tempo e lembrar de um montão de bons goleiros brasileiros que fui vendo no Maracanã, São Januário, Larangeiras, General Severiano, Gávea ou noutros Estádios como o Mineirão, Volta Redonda, Morumbi onde acompnhava o Vasco e lembrei-me de fazer a seguinte pergunta ao Valdir;
Qual foi pra você o melhor goleiro a actuar no Brasil nos anos sessenta,... sem contar o Valdir, claro.

Um abraço, amigo Valdir,
Osvaldo

Valdir Appel disse...

Osvaldo,
Eu idolatrava Manga. Ve-lo jogar contra o Fla-bicho-certo era a gloria.
Abraçoamigo.

Osvaldo disse...

Valdir;

Hoje recebi o livro e já devorei um bocado do mesmo. É como eu imaginava, fenomenal... Oh, em quantas histórias eu me revi e algumas, como torcedor eu participei...

Já o postei e publicitei no inicio do meu blog. Dê uma passada por lá e verá como ficou.
Espero que meus amigos participem e o "visitem"...

Vou mandar um mail, para outras explicações.

Um abraço, amigo Valdir e muito, mesmo muito obrigado...

"Casaca, casaca,
A turma é boa,
É mesmo da fuzasca...
Vasco... Vasco... Vascôôôôôôô...

Osvaldo

Anônimo disse...

Grande Valdir, que legal conhecer mais um canhão, como sou novo rs, o melhor canhão que vem na cabeça foi o de Celio Silva, otimo zagueiro do Corinthians,,,um abraço, valeu por mais um post.Genildo Oliveira/Mossoró Rn

Ze Neto Marcos disse...

Acho que houve um equívoco de sua parte,quanto ao nome do goleiro dessa partida.vamos lá: 0 Jairo chegou ao fluminense em 1969,sendo que nessa época alemão estava no clube do remo.
O fluminense teve outro goleiro com o nome de Jairo,sendo que esse jogou até 1958,e nessa época alemão era apenas um aspirante no sport recife.