sexta-feira, 16 de julho de 2010


O vício do craque.
Com o passe na mão, fui a Balneário Camboriú passar férias.
Havia encerrado o meu ciclo no Voltaço e pretendia curtir bastante o litoral sul antes de voltar aos gramados.
Numa quarta-feira de pouco sol, fui até Brusque visitar meus familiares e acabei assistindo uma partida amistosa entre o Carlos Renaux e o Palmeiras de Blumenau no estádio Augusto Bauer. Jogo preparatório para as disputas do estadual catarinense.
Após a partida, dirigi-me aos vestiários do Palmeiras para rever o zagueiro Di, meu conterrâneo, já em fim de carreira, que fez sucesso em grandes equipes do futebol brasileiro.
Outros nomes expressivos faziam parte do elenco alviverde de Blumenau: Cardosinho (ex-Flamengo); Gilson e Wandeir (ex-Goiás), Jorge Luiz, um meia fantástico, que se consagraria no Joinville, posteriormente, e Britinho, baita ponta-direita.
Eram regidos pela velha raposa, Lauro Búrigo.
Fui apresentado ao Vesgo, apelido do treinador.
Búrigo me perguntou se eu gostaria de jogar no seu time.
Percebendo a oportunidade de voltar pra terrinha com a possibilidade de ser campeão catarinense, respondi que se a proposta fosse boa eu aceitaria o convite.
No dia seguinte, fui ate o estádio do Palmeiras na Alameda e negociei o contrato. Tive que mostrar muita seriedade e firmeza nas minhas pretensões salariais.
O supervisor do clube provocou risadas dos diretores ao me questionar sobre a pedida financeira, perguntando se eu era melhor do que o Wandeir, eleito, em 76, o melhor da posição em SC.
Na minha passagem pelo Palmeiras de Blumenau presenciei alguns acontecimentos inéditos, até em então, em minha carreira.
Eu era bastante careta. Cego, não!
Logo logo descobri que Blumenau, típica cidade alemã de tradições e educação rígida, não estava preparada para o time que o Palmeiras formou em 1977.
Eu morava no City Hotel, na Rua Ângelo Dias. Próximo da Alameda e da Rua 15, e do estádio esmeraldino.
No mesmo hotel residia o treinador Burigo, Pepe – um dos craques do time, e eu.
O meu apartamento dava de frente pro colega, que era usuário de um cigarrinho feito com os guardanapos catados nas lanchonetes do bairro, indispensáveis na preparação do seu schnaps*.
Às vezes eu batia forte, de sacanagem, na porta do colega, e ouvia o barulho atrapalhado de quem junta coisas apressadamente, para não deixar vestígios.
Sua reação ao abrir a porta era imediata:
“Poxa Valdir! Assim você me mata de susto, eu tava acabando de enrolar um... Pensei que era o chefe”.
O trajeto do hotel para o campo era feito de acordo com o movimento dos pedestres. Caminhávamos por uma calçada e atravessávamos para a outra sempre que fossemos cruzar com um transeunte. Fazíamos assim idas e voltas, pela manhã e à tarde.
Depois do almoço, Pepe comia dois sonhos na lanchonete do clube, antes do inicio do treino vespertino e provocava do treinador o seguinte comentário:
-Pô, esse cara tem uma jibóia na barriga, ele acabou de almoçar.
*Aperitivo
Blumenau, 1977

9 comentários:

ítalo puccini disse...

ô delícia de história, valdir!

ficou bonito o blog também!

abraço grande!

Osvaldo disse...

Amigo Valdir;

Sempre nos deliando com essas histórias que só quem conhece os meandros futebol, sabe.

Um abraço, caro amigo.
Osvaldo

Adalberto Day disse...

Valdir
Com passe justo na mão. Depois de tantos anos brilhando pelo futebol brasileiro. Merecidas férias em nossa bela Cambroriu. No amistoso bateu a tentação de sentir o gostinho de um clube de Blumenau e procurou o Palmeiras através do DI, grande jogador que passou pelo Reanaux, Paisandú e Palmeiras e Guarani em Blumenau, fora os demais pelo estado. Esse time do Palmeiras era fantástico, Jorge Luiz veio do Paysandu para o Blumenau e depois consagrou-se no Joinville.
O Burigo acho que não te viu direito, não sei se foi pelo apelido dele....
Bela história essa Valdir....Parabésn. Pena que sua passagem pelo Palmeiras, tenha sido ofuscado pelo treinador que não lhe deu o devido valor.
Abraços Adalberto Day cientista social e pesquisador da história.

Felipe Matos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Felipe Matos disse...

Valdir, esse Vandeir é o mesmo que passou pelo Avaí?

http://minhavidavai.blogspot.com/2010/05/por-onde-anda-vandeir-in-memoriam.html

Aliás, aproveitando a convocação de Renan para a seleção brasileira, gostaria de te fazer duas perguntas, afinal, és um grande conhecedor do assunto:

1) Qual foi o maior goleiro catarinense que viste jogar?

2) Não sei se vc teve como acompanhar a trajetória do Avaí ao longo do anos, mas qual foi o maior goleiro avaiano que voce ja viu vestindo a camisa do leão?

Se voce permitir, vou colar a sua resposta la no nosso blog...

Um grande abraço!

Valdir disse...

Felipe,
Vandeir foi um grande goleiro e gostei muito do post sobre ele no teu blog.Pena ter partido tão cedo.
Renam eu conheço desde os 15 anos e nunca duvidei da sua capacidade. Joga simples, é seguro, boa colocação e sái bem do gol. Tem tudo pra fazer história no futebol brasileiro.
Outro detalhe, o Alemão da Scarpa/SJBatista, é seu mentor, o que garante ao garoto uma boa estrutura.
Admirava o Rubão que passou pelo Avaí. Os melhores da minha época de Paysandú eram: Jairo e Bosse, Caxias e América Joinville respctivamente.
Obrigado pela visita e muito sucesso no teu excelente blog

Felipe Matos disse...

valdir, muito obrigado pela gentileza da resposta! Um grande abraço!

Felipe Matos disse...

Valdir, aqui está a postagem co o seu voto sobr eo goleiro avaiano:

http://minhavidavai.blogspot.com/2010/08/eles-tambem-mereciam-selecao.html#comments

Unknown disse...

Valdir! Obrigado por ess memorável história, Vandeir é meu pai! Hilário saber disso! Sucesso pra você, a postagem é de 2010, mas só hoje achei essa raridade aqui! Obrigado! Att; Walisson Amin.