quarta-feira, 20 de março de 2013

Carlos Renaux, 1976

A farsa
Em 1976, o time do Carlos Renaux estava voando baixo no campeonato catarinense, praticando um futebol primoroso aliado a um preparo físico invejável. O centroavante Paulo Garça era um dos responsáveis pelas grandes vitórias do time do técnico Joel Castro Flores, fazendo muitos gols, alguns de rara beleza. Paulo, que gostava de uma noitada, sem querer acabou colocando um apelido no Joel, quando chegou atrasado na reapresentação do elenco tricolor numa manhã de terça-feira.
Nos vestiários, o treinador fazia um retrospecto do jogo de domingo, comentando os acertos e as falhas da última vitória, quando Paulo Garça invadiu o recinto, de bonezinho traz pra frente, óculos escuros, camiseta regata, badulaques pendurados no pescoço, bermuda estampada e chinelão de dedo. Ainda trôpego, travado, zonzo e com voz enrolada, depois de ter varado a madrugada enxugando todas as “louras suadas”, virou-se para o Joel e disparou:
– Pois é, “seu Brandão”, a noite foi pequena...
A gargalhada estrepitosa do elenco teve eco até no treinador, que não se conteve ao ver a figura espalhafatosa e cômica do seu jogador. Garça trocou o nome do Joel por Brandão, técnico em evidência no futebol paulista, que dirigia o Palmeiras. E o apelido ficou.
Quarta-feira, durante o treino coletivo, Paulo sentiu dores na perna e foi socorrido pelo massagista Mário Vinotti e pelo doutor Geraldo. À tarde, apresentou-se à beira do gramado com a perna gessada. A notícia circulou como uma bomba em Brusque. Sem o seu artilheiro, o Carlos Renaux perdia muito na sua força ofensiva e dava chances ao Paysandú, seu eterno rival, de sonhar com uma vitória no clássico de domingo. O jogo seria na rua Pedro Werner, domínio esmeraldino.
Minutos antes do inicio da partida, no vestiário tricolor, Dario Silva e Gilmar Gonçalves, repórteres da Rádio Araguaia AM, entrevistaram o jogador que seria o grande desfalque do clássico. Paulo Garça lamentou-se no microfone da emissora. Mal o pessoal da imprensa se retirou, Mario Vinottti, munido de uma serra de cortar gesso, cortou a bota branca do jogador, que imediatamente se uniformizou.
Os fogos de artifício pipocaram quando os dois times entraram em campo e, para surpresa e delírio dos torcedores do Carlos Renaux, Paulo Garça estava entre os 11 da equipe, frustrando os paysanduanos, até então confiantes na vitória do seu time. Quem ficou uma fera com o engodo, sentindo-se usado pelo jogador, pela estratégia do técnico e até pelo médico do Carlos Renaux, foi o calejado repórter Dario Silva que, em represália, ficou um longo tempo sem entrevistar ninguém que passasse próximo do estádio Augusto Bauer, reduto tricolor. 
Deu Renaux: 1 a 0.




Imagens: Revista Placar

4 comentários:

Adalberto Day disse...

Valdir
Mais uma bela crônica. O Carlos Renaux de 1976, com Paulo Garça aprontando as dele.
Jogador boêmio, que até trocou o nome do treinador chamando de Brandão, treinador de nome Oswaldo Brandão, por sinal um dos melhores de nosso futebol, do Palmeiras, Corinthians.
Olha essa farsa foi de lascar. Serrar o gesso e dar as ao Garça, foi uma graça.
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau

Unica Arte disse...

Valdir, show de bolaaaaaa
Parabêns mais uma vez pelo blog,
e ja reforçando que é um dos melhores do genero do brasil

abrcs!!!

Unknown disse...

Esse fato deixou o Dario Silva muito frustrado apesar de ser torcedor do Carlos Renaux.
O Paulo Garça foi um excelente ator. Mal podia apoiar o pé no chão e nos convenceu de que não poderia entrar em campo.
Após a entrevista, seguimos a pé até o estádio do Paysandú na Pedro Werner para cobrir o clássico e, no caminho o Dário me comentou que seria impossível o Carlos Renaux vencer a partida sem o Paulo Garça.
Coisas do futebol. GILMAR GONÇALVES(frustado)

Joel Castro Flores disse...

Parabens Valdir, pela exatidão dos fatos.È que tínhamos que criar um fato novo, que pesasse na balança, e foi o que aconteceu.O Nilo Debrassi, era o supervisor, e qdo entreguei a relação dos que iam jogar, êle voltou com o a lista logo após, dizendo que estava errado, pois tinha o Garça na relação. Nem o supervisor sabia.E acabamos ganhanho o clássico 1 x 0, gol do Julinho.Abs forte.Joel Castro Flores