quinta-feira, 1 de março de 2012

ZOFF, 70

Por ROBERTO VIEIRA           


Oscar sobe e cabeceia no canto.

Gol do Brasil!

Guerra.

A Velha Bota.

As promessas do Duce.

Mario e Ana esqueceram por um momento da guerra.

Dino chegou naquela fria manhã de 28 fevereiro de 1942.

A pequena cidade de Mariano del Friulli faz festa.

Crianças em uma cidade com mil habitantes sempre são motivo de festa.

O velho goleiro calça as luvas.

Sócrates e Zico.

Falcão.

Guerra.  

A Velha Bota não acredita no velho goleiro.

Zoff está acabado.

O cinema e a primeira namorada.

De repente, o pesadelo.

Todos os gols da Fiorentina contra a Udinese.

A estréia de Zoff na Série A.

A namorada dá uma risada.

Zoff fecha a cara e afunda na cadeira.

Zico se livra da marcação.

O Doutor entra e finge cruzar.

O chute sai seco. No canto.

Gol do Brasil.

Albertosi era um galã de cinema.

A Copa de 70 foi o banco de reservas.

Mas Zoff era jovem.

E foi melhor não pegar Pelé e Carlos Alberto pela frente.

Depois de 70?

Zoff passou anos sem tomar um gol na Azzurra.

E foi tomar logo um gol do Haiti.

Zoff passou a acreditar em vudu.

Paolo Rossi marcara mais um gol.

Falcão domina a pelota.

Não deixa ele chutar.

O petardo de esquerda vai no canto.

Zoff vê o sonho escapando mais uma vez.

“Já não basta o Nelinho!”

Zoff enxerga os olhos de Ana.

A mãe diz adeus na noite da pequena cidade.

Não existe guerra.

Não existe mais a criança.

Mario já não há.

Resta apenas Dino e a despedida sem glória.

O chute de Nelinho na memória.

Oscar sobe e cabeceia no canto.

Gol do Brasil!

Mas esperem, tifosi!

A bola está sobre a linha nas mãos de Zoff.

O capitão italiano salva a seleção.

Rossi é o herói.

Zoff ergue a taça na Espanha. Cervantes.

Sem Rocinante.

Sem Dulcinéia.

Um velho senhor da guerra.

Aos 40 anos de idade.

Zoff é a criança de Mariano del Friulli.

Zoff chega ao pequeno cemitério:

Mandi, Mama, Papa!

E deixa um pequeno embrulho no túmulo dos pais.

Um par de velhas e surradas luvas.

Luvas que venceram uma guerra...

Um comentário:

Adalberto Day disse...

Grande Zoff, aqui em texto pelo Vieira.
Será que foi o Zoff que atrapalhou nossa vida nessa copa, ou foi o Paoolo Rossi - ou será que foi o Cerezo? ou então ingenuamente o Grande Júnior? ou aquele gol anulado...só falta por a culpa no Falcão....o Fato já aconteceu, nada mais mudará essa terrvél história que nosso futebol que encantou o mundo em 1982 - nem sempre ser campeão é tudo, ou é? sei lá.
Mas o fato é que encantamos o mundo e isso nunca será esquecido.
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau.