segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Conosco ou sem nosco
O time do Aymoré era um sério candidato ao título de campeão da liga amadora de futebol da cidade de Folha Seca, interior de Santa Catarina.
Tinha no técnico Gums, um bom orientador - matreiro que só ele. E bons jogadores.
Dois deles, Maisena e Araçá, atacantes, artilheiros, pretendidos pelos times grandes da capital - Avaí e Figueira.
Meneslau - branquelo como o amido - virou Maisena na infância, assim como Rosiclei, filho de Rosinha e Cleiton, passou a ser chamado de Araçá de tanto comer a fruta.
Maisena era um boleiro diferenciado dos demais. Admirado. Capitão do time.
Afinal era o único letrado. Cursara o Imaculada Conceição e tinha o 1º grau completo. Lia bem mais do que as manchetes do Diário de Folha Seca.
Os colegas invejavam a sua coleção do Tex - que passava de 100 gibis – expostas com orgulho na estante da sua sala, na prateleira logo cima do seu aparelho de som dois em um.
O craque apreciava música sertaneja. Gostava de exibir, e tocar, seus discos de vinil. Entre eles um bastante raro do Leo Canhoto e Robertinho, de 1969, os long plays do Cleyton e Cristiane e alguns clássicos de Matogrosso e Mathias.
Pendurada num prego alto na parede, acima da estante, uma flâmula autografada pelo Alarcon, meia-esquerda paraguaio, maestro do time do América do RJ nos anos 50, era outro objeto de desejo dos amigos do jogador.
Chegado numa “água que passarinho não bebe”, Maisena mandou emoldurar os 10 Mandamentos do Boêmio, escritos por um tal de Krause - lá de Pernambuco, com ênfase para o primeiro:
“O boêmio ama a noite sobre todas as coisas”.
Sem desprezar os demais mandamentos é claro.
O quadro foi colocado entre as garrafas do bar, repleto de purinhas. A maioria de Luiz Alves – município famoso pela produção de cachaça, que fica pertinho de Folha Seca - que ele mesmo buscava e de Salinas – MG, enviadas por um colega do jogador, que atuava lá pras bandas de São Lourenço.
O maior rival do Aymoré era o Progresso.
Naturalmente a final do campeonato envolveu os dois times.
Na semana do jogo decisivo, uma nuvem negra baixou sobre o campinho do Aymoré, dos jogadores e da sua torcida. Araçá e Maisena se contundiram com seriedade. O doutor Tívio tinha pouca esperança de recuperá-los a tempo de jogarem.
A Rádio Folha Seca mandou Iata, experiente repórter da emissora, para entrevistar os jogadores recolhidos à enfermaria do clube.
Araçá, muito tímido, pediu que Maisena falasse em nome dos dois.
O repórter não hesitou na pergunta:
“Com a provável ausência dos dois, vocês não acham que ficou fácil para o Progresso levantar a taça?”
Maisena respondeu sem pestanejar:
“Não tem problema, conosco ou sem nosco a gente vamos vencer!”

(Texto inspirado no livro Comigo ou sem migo de Lenivaldo Aragão)

8 comentários:

BLOG DO ROBERTO VIEIRA disse...

Caro Valdir... venho por meio desta solicitar a continuação da história... com o resultado do jogo.

Anônimo disse...

Roberto,
Vamos ter que perguntar pro Lenivaldo o final desta história. Como você sabe eu apenas aumento, não invento.
Abraço,
Valdir

Anônimo disse...

Amigo, parabens!
tenho acompanhado seus textos estão ótimos.
pena que sou de outra geração e só ouvi falar de vcs.
abraços,
Edinho

Anônimo disse...

Edinho,
Você é de uma geração anterior à minha e perdeu a memória.
É compreenssível.

Anônimo disse...

Boa noite Valdir!!!

Desculpe o atraso, mas venho lhe escrever(sou o Rodrigo, que estava com a camisa do Sao Cristovao de 1926, no aniversario do Teixerinha) que mantive contato com alguns vascainos classicos em Florianopolis (cerca de 12 a 15) ao qual avisei-os de um possivel almoco no Vale do Itajai com o Roberto Dinamite. No mais, estou a postos para mais informacoes vascainas. Abracos e parabens pelo blog.

Rodrigo Darosci

Anônimo disse...

Boa essa Valdir
Já conhecia este termo - conosco, sem nosco, tem cada fera que vou te contar. Pior que este termo é usado até os dias de hoje. Gostei como sempre do texto um abraço
Adalberto De Blumenau.

Anônimo disse...

VALEU A HISTORIA MUITO BOA ABRAÇO

Anônimo disse...

VALEU A HISTORIA MUITO BOA ABRAÇO