domingo, 29 de junho de 2014

Mãozinha, o juiz



Rivalidade
Quando o duelo entre Paysandu e Carlos Renaux era apenas nos gramados, os clássicos tinham um sabor especial e eram alimentados por provocações, insinuações e rasteiras, um no outro.
Às vésperas dos jogos, as primeiras doses de veneno já circulavam pela cidade. Os comentários variavam: “O Renaux comprou o árbitro”, “O Paysandu subornou o goleiro deles”, “O centroavante tá na gaveta”...
Obviamente, o resultado do jogo é que decidia quem fizera o quê.
“Não te falei que o nosso goleiro tava vendido?”.
“Foi pênalti coisa nenhuma! O juiz tava comprado”.

Mãozinha
Nos anos 1960, o bom árbitro brusquense Orci de Souza fazia muito sucesso nos meios esportivos da cidade, dividindo a opinião das torcidas. O que alimentava as contradições dos torcedores, era o fato de que em determinado clássico beneficiava o time da rua Pedro Werner e em outro o da João Bauer.
O torcedor derrotado culpava o árbitro e o acusava de ladrão, afirmando que o apelido Mãozinha (que o Orci carregava por causa de um defeito físico), definia bem o que ele era.
Quando o Caxias, de Joinville, veio a Brusque enfrentar o Carlos Renaux, e o Mãozinha foi escalado para apitar a partida, nos bastidores, os dirigentes brusquenses fizeram um acerto com o juiz. Precisavam da vitória a qualquer preço.
O jogo estava empatado e chegando ao seu final. Orci já havia marcado duas penalidades máximas a favor do Renaux, desperdiçadas pelo ponta direita Nilton Schat.
No apagar das luzes, Mãozinha apontou para a marca do pênalti, sob protestos gerais dos jogadores do Caxias. O goleiro Jairo já havia defendido as cobranças anteriores.
Schat se preparou para cobrar novamente. Orci tomou-lhe a bola e decretou:
“Você não! Agora, quem bate é o Petruschy”.

O curió do Mãozinha
Mãozinha gostava de criar passarinhos e andava de olho no curió do Sassi, paysanduano de quatro costados, a quem propôs uma aposta: se o Renaux vencesse o clássico de domingo, ele ficaria com o curió do amigo; caso contrario, entregaria o seu.
Sexta-feira, a Liga Desportiva Brusquense divulgou a escala de árbitros da rodada de fim de semana.
Sábado pela manhã, Orci foi até a barbearia do Sassi para buscar o curió que, segundo ele, havia ganhado.
Sassi respondeu:
“Mãozinha! Como você ganhou, se o jogo é amanhã?”.
“É que quem vai apitar o jogo, sou eu!”.

(Publicado no livro Na Boca do Gol)

9 comentários:

Adalberto Day disse...

Valdir
Essas situações ocorriam em cada cidade. Por aqui no esporte amador eu presenciei muitas vezes. Pior quando não dava certo, o juiz era comprado, mas jogadores do time que comprou o juiz, já haviam se vendido. Sei de muitos causos. Infelizmente sempre e continua fazendo parte de nosso futebol, ou em qualquer atividade.
Mas neste episodio creio que o Nilton Schat, é que era o vendido, ou o goleiro era bom mesmo. Ainda bem que o juiz não deixou ele bater o terceiro pênalti.
Abraços Adalberto Day cientista social de Blumenau

CAMBUCITROS disse...

Em primeiro lugar parabéns pelo site. Ele já está na minha lista.
QUerendo saber mais do futebol do Estado do Rio de janeiro, divisões inferiores, visite www.futebolemanha.blogspot.com.
Um grande abraço.

Unknown disse...

Caro Valdir,
Sou testemunha ocular desse episódio, pois assisti, sendo torcedor do Carlos Renaux, a essa partida eletrizante. Mesmo sabendo que os pênaltis eram escandalosamente inexistentes, era só alegria a cada marcação (mas nem tanto a cada cobrança não convertida). Às vésperas do jogo, quando foi divulgado o nome do árbitro, os torcedores do "vovô do futebol catarinense" eram só alegria e já comemoravam, antevendo o resultado. Comentava-se que a escalação desse árbitro seria uma retaliação à "roubada" de que teria sido vítima o C. Renaux quando atuou em Joinville, ocasião em que o juiz também teria assinalado penalidade inexistente contra o time brusquense. Mas duvido que esses acontecimentos fossem rotina no futebol daquela época, aparentemente, muito menos corrompido do que atualmente.
Abraços,
Francisco Daniel Imhof (Chico)
Jaraguá do Sul

Valdir Appel disse...

Valeu Luis Peres. Obrigado pelos comentários. Já estou navegando no teu blog.Grande abraço

Valdir Appel disse...

Chico,
Eu já te falei: você tem mais causos do que eu pra contar. Que tal postar alguns deles aqui?
Tô aguardando,
Abraço.

Antonio Estevan disse...

Valdir,

O mãozinha por aqui poderia ser chamado de "braço de radiola".

Eles maldosamente chamam assim aqueles que têm um defeito na mão e antebraço, com quase nenhuma mobilidade no membro, que mexe-se conforme o andar do corpo.

O "mãozinha" é o "Pé de Curica" de Brusque. Lembra do texto sobre o pé de curica?

Ah, por acaso em Recife vc conheceu um juiz chamado Caúla?

Abração.

Antº Estevam

Valdir Appel disse...

Antonio,
Voce e o meu amigo Chico deveriam ser parceiros do blog.
Que tal publicar tuas historias por aqui?
Abraço

BLOG DO ROBERTO VIEIRA disse...

Fenomenal, Valdir! Me embolei de riri. Agora, aqui em Recife também aparece uns curiós de vez em quando... Você conheceu algum?

Valdir Appel disse...

Roberto,
Pelo que eu tenho lido, quem pode nos contar algo a respeito é o mestre Lucidio. Tô desconfiado que o homem era amigo da Cleópatra. Já pedi o RG do homem.