sexta-feira, 16 de novembro de 2012

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A pantera cor de rosa

Clésio e Renildo partiam de Florianópolis todos os fins de semana, com destino a Balneário Camboriu, onde apitavam os jogos do campeonato de praia, que faz parte do calendário de eventos da prefeitura.
Recém-formados no quadro de árbitros da Federação Catarinense de Futebol, aproveitavam o recesso do campeonato de profissionais para praticar seus conhecimentos nos fins de semana e defender algum vil metal extra nos jogos das equipes seniores.
Era, também, uma forma de curtir antigos ídolos do futebol de campo, que se reuniam após os jogos para bebemorar e contar histórias.
Clésio era tímido e discreto, no corpo esguio de representante comercial; Renildo, forte como um touro, como convém a um professor de artes marciais.
Mas, as sextas-feiras começaram a mexer com o Clésio e o seu comportamento contido. O primeiro sinal evidente desta transformação ocorreu na chegada ao hotel em que os dois árbitros costumavam se hospedar.
Na recepção, Clésio, apressou-se em preencher primeiro a sua ficha de hóspede, ao perceber a chegada de um grupo argentino de turistas da terceira idade. Lépido, e com passos rebolantes, saiu driblando os “gringos”, até a porta do elevador, para então virar-se com estilo, jogar o braço desmunhecado em direção ao colega Renildo, ainda no balcão, e dizer:
“Benhê, não esquece as nossas malas!”.
Entrou no elevador, enquanto todos voltavam seus olhares curiosos para um rígido Renildo, cuspindo fogo e de punhos cerrados, usando todo o seu controle para não sair correndo e encher de porrada o colega.
Na praia, o processo metamorfósico ocorreu num jogo entre o Tubarões e o Badejos, na segunda rodada do torneio de verão. O público estava adorando os trejeitos debochados do Clésio e aplaudia com entusiasmo, fazendo-o ousar ainda mais nas coreografias.
Improvisou arqueadas de corpo, arrancadas de ré, com pulinhos na ponta dos pés, e fez da areia o seu palco de bailarino.
Aos 20 minutos, marcou uma falta na minha grande área. Quando me preparava para repor a bola em jogo, Clésio correu do meio de campo em minha direção. Passou por mim e foi até a bandeirinha de escanteio, onde sacou um cartão, ergueu o braço, dobrou o corpo para trás e “amarelou” a corredora solitária, que ousara invadir o campo de jogo junto às ondas do mar.
Criativo, foi buscar nos árbitros Roberto Morgado, Jorge Emiliano e Alvir Renzi a inspiração para definir a cor do seu uniforme de futebol de campo: o rosa choque (também para as chuteiras!).
E como um personagem da Marvel (mesmo sem o grito de Shazam!), surgiu para o futebol brasileiro o árbitro Margarida, que ainda faz muito sucesso, apresentando-se em jogos beneficentes em todo o Estado, sempre como a maior atração do espetáculo.

Clésio Moreira dos Santos (o Margarida) e Renildo Nunes, árbitros da Federação Catarinense de Futebol estão aposentados.

5 comentários:

Regina Carvalho disse...

Ora,tinha esquecido a criatura!
E Margarida merece ser lembrado.
bj

Adalberto day disse...

Valdir
Clésio, Margarida, são personagens do nosso folclórico do futebol. Muito interessante sua postagem e texto bem elaborado. Devemos sim preservar esses episódios, pois as atuações desses cidadaõs, faziam também a alegria dos torcedores, sem comprometer a arbitragem.
Um abraço
Adalberto day cientista social de Blumenau.

Anônimo disse...

Cara queria ter nascido antes só para poder ter visto tu jogar,queria saber se voce não tem nehum video teu para publicar no blog e teu fãs matar saudades! vc é 10! sou teu fã! Genildo Oliveira/Mossoró Rn

Valdir Appel disse...

Valeu Regina!

Beto, obrigado pelo comentario sempre bem-vindo.

Genildo, você é o cara de Mossoró.

Abraço a todos.

Anônimo disse...

Como seria legal se existisse algum jogador estilo margarida em campo...mas não vale disfarçado, assim ja vimos,,,,Genildo Oliveira