quinta-feira, 31 de julho de 2014

A carteira de motorista

Eu já dirigia, mas não tinha habilitação. Fui ao Detran e fiz todos os procedimentos necessários para tirar a minha carteira.
No dia marcado para o exame de direção, peguei emprestado o fusquinha da minha amiga Joilce. Na época era praxe você levar o seu carro para fazer o teste.
Só tinha um problema, o possante não engatava a segunda de jeito nenhum. Era primeira, terceira e quarta marchas direto. A redução na ordem inversa.
Fui.
Torcendo para encontrar um examinador complacente, que entendesse as minha dificuldades com o carro, que para piorar só pegava no tranco.
O Detran em Natal ficava no topo de uma ladeira. Pra garantir uma saída legal, estacionei o carro no sentido descida.
Veio então ao meu encontro o seu José com as suas planilhas de avaliação. Só pra me deixar preocupado, foi logo dizendo que era torcedor do ABC.
Fui para a boleia do fusca e ele sentou-se ao meu lado.
Expliquei os problemas do câmbio para que ele descontasse as possíveis falhas, por conta do veículo.
Soltei o machão na banguela e ele pegou. Sai na primeira, engatei uma terceira e engrenei uma quarta com aqueles chiados de gato.
Arrepiando.
Dirigi apenas uma quadra, mandou que eu parasse em frente ao portão de uma casa. Ordenou que eu descesse do carro.
Senti um calafrio.
Bateu palmas no portão. Uma senhora, limpando as mãos no avental, atendeu.
-Amor, venha cá! Conheça o Valdir, goleiro do Alecrim. Passa um cafezinho pra nós?
Na volta ele dirigiu.

(Natal, 1974)

2 comentários:

Osvaldo disse...

Valdir;

A tua carteira foi fácil e ainda teve direito a um cafézinho!...

A minha, tirada 3 anos antes, paguei 300 cruzeiros e nem foi preciso arrancar com o fusquinha, porque quando arranquei já tinha a carteirinha na mão, ou seja, a guia pra ir levantar a dita cuja. E sem direito a cafézinho!!!
E hoje, quase 40 anos depois, sempre a conduzir em quase todo o Brasil e práticamente todos os países da Europa, com milhões de kilometros feitos, nunca tive o menor acidente.
Conduzir é como o amor,... primeiro prova-se e o resto vem depois.

Um abraço, amigo Valdir.
Osvaldo

Adalberto Day disse...

Valdir
E a carteira Valdir?
Pegou emprestado da vizinha? Manda arrumar o Fusca antes.
O Sr. José só queria tomar um cafezinho na casa dele e te apresentar a mulher dele. Agora para voltar hahahahaha não confiou no goleiro que por certo ele admirava. E o café? Estava bom...os docinhos e a frau do José.
Valeu Barbeiro....belo causo.
Abraços
Adalberto Day cientista social em Blumenau