terça-feira, 3 de agosto de 2010

Celso Unzelte

Celso Unzelte

Jornalista e pesquisador, Celso escreveu para Quatro rodas, para o jornal Notícias Populares e para o site Netgol.com. Atualmente, é professor de jornalismo e comentarista do canal ESPN Brasil, no qual participa do programa “Loucos por Futebol”. Também colabora com as edições especiais das revistas Placar e Quatro Rodas. Celso escreve para o Yahoo! Esportes às sextas-feiras. Contato: celsounzelte @ yahoo.com.br

O goleiro acorrentado
Seg, 02 Ago, 08h06
O título desta coluna é o mesmo do novo livro de Valdir Appel, ou Chiquinho, para os mais íntimos. Ex-goleiro do Vasco que ficou marcado por ter jogado uma bola contra seu próprio gol ao tentar a reposição em um jogo contra o Bangu, em 1969, ele foi — e é — muito mais que isso. Como tive oportunidade de escrever na contracapa de seu primeiro livro, Na Boca do Gol, em 2006, Valdir “pensa o futebol na posição privilegiada de agente, colocando na prática o sonho de todo teórico da bola”.

Na semana retrasada, tive o prazer de ciceronear esse catarinense de Brusque em suas andanças por São Paulo. Agora, após terminar a (re)leitura de seu mais novo livro, tomo a liberdade de usar esse espaço para divulgar três das melhores histórias nele contidas. Quem gostar e quiser mais, entre no blog valdirappel.blogspot.com

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“O Campeonato Paranaense de 1978 poderia ser decidido nos pênaltis e Manga [veterano goleiro do Botafogo, nessa época a serviço do Coritiba] apostou com o presidente Evangelino da Costa Neves 100 dólares para cada pênalti que ele defendesse contra o arqui-rival Atlético Paranaense. E, realmente, a decisão foi para as cobranças de penalidades. [...] Os jogadores do Furacão erraram três cobranças. Duas Manga defendeu, e uma foi para fora.

No dia seguinte, o presidente entregou 200 dólares ao goleiro, que reclamou: [com sotaque uruguaio, pois havia jogado alguns anos por lá]

- Son trecentos, pressidente!

- Como trezentos, se você defendeu dois?!

- Pressidente, mira acá! Manguita non defendió porque la pelota se fue para fuera. Son trecentas platitas!”

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“Na casa onde residiam os jogadores estrangeiros do Ceub, na zona norte de Brasília, eu dividia quarto com o ponta-direita Gilberto. Mantínhamos um colchão extra pro amigo Rildo [lateral-esquerdo, ex-Botafogo e Santos].

Dois toques na porta, depois da meia-noite, era sinal de que Rildo chegara. Gilberto abria a porta, eu esticava o braço pra alcançar o colchão debaixo da minha cama, e o empurrava pro centro do quarto. Boa noite era a única frase trocada.

Rildo era o primeiro a acordar, fazia a higiene bucal com a escova dental do Gilberto ou com a minha. Os protestos vinham na hora:

- Pô, Rildo! Use a escova nova que compramos pra você!

- Qual é, meu chapa?! A de vocês já está amaciada!”

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E para encerrar, peço licença para contar mais uma historinha, em que o Valdir literalmente “Apellou” (risos):

“O zagueiro Argeu formou com Joel Santana uma zaga de respeito no América de Natal. Era madeira de dar em doido! O atacante adversário sofria primeiro o combate mortal do Argeu, e, caso sobrevivesse, morria nos pés do Joel. Mas a boleirada costumava dizer que o mais difícil era passar pelo mau hálito do Argeu: “Se ele abrir a boca o atacante desiste da jogada”.

A chuva fez com que o preparador físico Arturzinho substituísse o treino que realizaria na Pousada do Atleta pelo minúsculo ambiente do vestiário. Improvisou formando duas fileiras de jogadores. Uma de frente para a outra. Iniciou a atividade com exercícios respiratórios:

- Inspirem fundo pelo nariz e soltem o ar pela boca!

Quando Argeu assim procedeu, Sérgio Poti (que estava de frente para o colega) gritou:

- Peidaram!

- O que você falou?! – ofendeu-se Argeu.

- Gente! Peidaram de novo!”

Um comentário:

Adalberto Day disse...

Valdir
O Jornalista Celso Unzelte, é sensacional em seus textos ao referir-se aos seus trabalhos.
Mas o Rildo grande jogador que foi tinha umas manias muito esquisitas. Eu realmente não sabia que o grande Rildo era assim com manias nada saudáveis. Fui muito fã do seu futebol.
Olha dizer que Joel Santana e o Argeu formaram uma zaga de respeito pelo América, até pode ser por lá, pois ambos não tinham nada de futebol espetacular.
Mais uma bela crônica aproveitando seus livros.
Parabéns ao Celso e a você Chiquinho
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau