Homenagem tardia.
Por Valdir Appel
Tempos atrás, dividi um bom papo e uma garrafa de vinho com
o meu amigo Fialho.
Goleiro nas horas vagas, do time ‘25’ do Bandeirante de
Brusque, tornou-se especialista no gol do futebol soçaite.
E o papo não poderia ser outro, bola, goleiros, Vasco,
defesas, milagres e frangos.
Falei muito sobre o goleiro de antigamente.
Das camisas estofadas, no peito e nos cotovelos.
Das joelheiras imprescindíveis nos gols onde não crescia
grama.
Das chuteiras duras de pregos de um faquir.
Do goleiro sem luvas, e da minha relutância em usa-las nos
dias secos.
Da qualidade da luva, do material que apenas conferia um
certo conforto ao goleiro, nos dias de chuva.
Ruim com elas, pior sem elas.
Citei Félix, e para minha surpresa, Fialho “sacou” o seu
celular do bolso e ligou para o Papel*.
Ao ser atendido, Fialho disse apenas: Tem um cara aqui que
quer falar com você.
-Como vai, Papel?
-Cara, esta voz não é estranha, mas não consigo imaginar de
quem é. Deve ser um conhecido, me chama pelo apelido.
-Félix, você lembra daquele goleirinho que jogava no Vasco, catarina, branco como branca de neve?
-Valdir, eu não acredito! Quanto tempo rapaz. Onde você anda?
Após troca de gentilezas e comentários generalizados,
perguntei:
-E como você está de saúde, amigo?
-Valdir, já estive pior, estou tentando sair desta incomoda
dependência de um tubo de oxigênio, que me mantem vivo.
-Papel, maldito
cigarro, olha o preço que você esta pagando.
-Eu sei meu amigo, eu sei, infelizmente o tempo não volta.
Desce o pano.
Dois meses depois, abri a pagina do Terra e fiquei abalado
com a notícia da sua morte.
Enfrentei muitas vezes este goleiro, inúmeras vezes campeão.
Pelo Flu e pela Seleção brasileira.
Não tinha a altura ideal, não era esguio e elegante como
Gilmar.
Jogava quase sempre sem luvas e tinha uma colocação
incrível.
Fazia as coisas fáceis, as defesas sem estilo, e era
eficiente e quase instransponível debaixo dos três paus.
Félix era o anti projeto de goleiro.
Era apenas um fantástico goleiro.
*Papel-apelido do Félix.
Nas.: 24 dez 1937 Falecido 24 de ago 2012 (74 anos)
Foto: estadao.com.br
4 comentários:
Valdir Appel, belíssima homenagem! Você, cada vez mais, o mestre das palavras e crônicas! Parabéns, amigo!
Grande Félix, também conhecido como "papel" pela sua sutileza em seus "vôos" dentro da meta. Grande e honrosa homenagem a esse belo atleta que nos proporcionou alegrias durante a conquista do TRI.
No fim da cronica...uma poesia!
Felix
Um grande goleiro. Na Portuguesa, Flumionense ou Seleção Brasileira, ele era um goleiro seguro, sem grande firulas. O nosso Papel merece todo nosso carinho e respeito...quem fez parte de uma seleção como Felix, Carlos Alberto, Brito, Piaza, Everaldo, Clodoaldo,Gerson, Pelé,Jairzinho,Tostão, Rivelino, - de quebra Fontana,Joel Camargo, Marco antônio, Roberto,Paulo César Cajú..Ado, Leão...é mole ou quer mais. Grande justa homengaem Valdir a este grande goleiro.
Abraços
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau
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