quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Félix


Homenagem tardia.
Por Valdir Appel

Tempos atrás, dividi um bom papo e uma garrafa de vinho com o meu amigo Fialho.
Goleiro nas horas vagas, do time ‘25’ do Bandeirante de Brusque, tornou-se especialista no gol do futebol soçaite.
E o papo não poderia ser outro, bola, goleiros, Vasco, defesas, milagres e frangos.
Falei muito sobre o goleiro de antigamente.
Das camisas estofadas, no peito e nos cotovelos.
Das joelheiras imprescindíveis nos gols onde não crescia grama.
Das chuteiras duras de pregos de um faquir.
Do goleiro sem luvas, e da minha relutância em usa-las nos dias secos.
Da qualidade da luva, do material que apenas conferia um certo conforto ao goleiro, nos dias de chuva.
Ruim com elas, pior sem elas.
Citei Félix, e para minha surpresa, Fialho “sacou” o seu celular do bolso e ligou para o Papel*.
Ao ser atendido, Fialho disse apenas: Tem um cara aqui que quer falar com você.
-Como vai, Papel?
-Cara, esta voz não é estranha, mas não consigo imaginar de quem é. Deve ser um conhecido, me chama pelo apelido.
-Félix, você lembra daquele goleirinho que jogava no Vasco, catarina, branco como branca de neve?
-Valdir, eu não acredito! Quanto tempo rapaz. Onde você anda?
Após troca de gentilezas e comentários generalizados, perguntei:
-E como você está de saúde, amigo?
-Valdir, já estive pior, estou tentando sair desta incomoda dependência de um tubo de oxigênio, que me mantem vivo.
-Papel, maldito cigarro, olha o preço que você esta pagando.
-Eu sei meu amigo, eu sei, infelizmente o tempo não volta.
Desce o pano.
Dois meses depois, abri a pagina do Terra e fiquei abalado com a notícia da sua morte.
Enfrentei muitas vezes este goleiro, inúmeras vezes campeão.
Pelo Flu e pela Seleção brasileira.
Não tinha a altura ideal, não era esguio e elegante como Gilmar.
Jogava quase sempre sem luvas e tinha uma colocação incrível.
Fazia as coisas fáceis, as defesas sem estilo, e era eficiente e quase instransponível debaixo dos três paus.
Félix era o anti projeto de goleiro.
Era apenas um fantástico goleiro.

*Papel-apelido do Félix.
Nas.: 24 dez 1937 Falecido 24 de ago 2012 (74 anos)
Foto: estadao.com.br

4 comentários:

Ricardo disse...

Valdir Appel, belíssima homenagem! Você, cada vez mais, o mestre das palavras e crônicas! Parabéns, amigo!

Anônimo disse...

Grande Félix, também conhecido como "papel" pela sua sutileza em seus "vôos" dentro da meta. Grande e honrosa homenagem a esse belo atleta que nos proporcionou alegrias durante a conquista do TRI.

Giselda Trigueiro disse...

No fim da cronica...uma poesia!

Adalberto Day disse...

Felix
Um grande goleiro. Na Portuguesa, Flumionense ou Seleção Brasileira, ele era um goleiro seguro, sem grande firulas. O nosso Papel merece todo nosso carinho e respeito...quem fez parte de uma seleção como Felix, Carlos Alberto, Brito, Piaza, Everaldo, Clodoaldo,Gerson, Pelé,Jairzinho,Tostão, Rivelino, - de quebra Fontana,Joel Camargo, Marco antônio, Roberto,Paulo César Cajú..Ado, Leão...é mole ou quer mais. Grande justa homengaem Valdir a este grande goleiro.
Abraços
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau